A produção de alimentos tem evoluído totalmente dependente do uso de pesticidas e a sua utilização é justificada pelas autoridades competentes como segura desde que respeitadas as recomendações constantes do rótulo e as “boas práticas agrícolas”. No entanto os argumentos caiem por terra quando analisados os números das doenças directamente relacionadas com a exposição a estes produtos tóxicos, divulgados um pouco por todo o mundo. Na falta de estudos nacionais, reveja-se os fundamentos para que estes venenos sejam considerados inofensivos.
Mito – Os pesticidas são rigorosamente testados Antes de serem colocados no mercado, os fitofármacos são dados como rigorosamente testados. No entanto, a autoridade reguladora aprova múltiplos pesticidas para determinada cultura, o que faz com que uma mistura de diferentes substâncias tóxicas seja aplicada durante o ciclo produtivo de uma planta, incluindo combinações de herbicidas, fungicidas, insecticidas e fertilizantes sintéticos. Muitos alimentos apresentam assim um cocktail de produtos químicos, mesmo que respeitados os intervalos de segurança, que interagem entre si, possivelmente potenciando os efeitos de cada um, numa equação em que 1+1 não é necessariamente igual a 2, mas que pode ter um factor multiplicador traduzido num efeito devastador para a saúde do consumidor. Estudos revelam que a sinergia ou conjugação de determinadas substâncias tóxicas resultam num cocktail que origina vários distúrbios da saúde, embora cada produto tenha sido testado isoladamente e não tenha aparentemente revelado problemas de maior. Para além disso, a maioria dos pesticidas usados na agricultura, são eles próprios uma combinação de vários produtos, nomeadamente uma substância activa, com outros produtos sintéticos classificados como solventes, adjuvantes e surfactantes considerados inertes por desempenharem um papel menor na formulação, mas quimicamente activos que aumentam desta forma a eficiência do produto, mas ignorados quanto ao seu potencial para causarem problemas de saúde. Muitos pesticidas são classificados quanto à sua toxicidade aguda, sendo o critério mais avaliado, a quantidade de produto em miligramas por peso de massa corporal, capaz de causar a morte a 50% das cobaias. No entanto, a avaliação é feita apenas para os resultados mais ou menos imediatos, não sendo consideradas as reacções adversas registadas a longo prazo. Mito – Os pesticidas são inofensivos em pequenas quantidades Outro mito relativo à segurança dos pesticidas é de que os resíduos encontrados nos alimentos e que cumprem com os limites máximos autorizados, são demasiado baixos para causar qualquer tipo de problema. No entanto, levantam-se dúvidas sobre os critérios que estabelecem estes valores como seguros. O método actual tem por base que quanto menor é a quantidade de produto, menor é o efeito que poderá desencadear numa alusão de que “a dose faz o veneno”. Contudo, sabe-se agora que existem produtos que em quantidades residuais são ainda mais tóxicos do em doses maiores, uma vez que nessas quantidades activam os receptores hormonais imitando ou interferindo com a acção das hormonas no organismo e desencadeando alterações endócrinas que estão na origem de doenças como a infertilidade, a obesidade ou a diabetes tipo 2 entre outras. Mito – Os pesticidas degradam-se rapidamente no ambiente Uma das maiores ilusões sobre os pesticidas é a crença de que estes rapidamente se degradam no ambiente deixando poucos ou nenhuns vestígios. De facto, muitos fabricantes reclamam este tipo de propriedades para os produtos que comercializam, mesmo que a informação não corresponda à verdade. Muitos dos químicos atuais persistem no ambiente exactamente como outros produtos tóxicos que foram retirados do mercado por esse motivo. Está confirmado que algumas substâncias químicas degradam-se, produzindo metabolitos que são, muitas vezes, mais tóxicos que os produtos que lhes deram origem. É o caso do glifosato, o herbicida mais usado do planeta, que a indústria e os utilizadores reclamam como amigo do ambiente, mas cujo produto da degradação é mais tóxico do que o principio activo testado sendo responsável por diversas doenças. Mito – As entidades reguladoras têm tudo sob controlo Outro dos fundamentos que justificam a utilização de produtos tóxicos na produção de alimentos é a de que as autoridades competentes têm tudo controlado e de que os pesticidas podem ser utilizados em segurança. No entanto, a história comprova que as autoridades reguladoras não foram, até agora, capazes de deter as contaminações ambientais e os problemas de saúde, por produtos até então, considerados seguros. As entidades têm ao longo do tempo mostrado uma atitude reaccionária, em vez de precaucionaria que poderia ter evitado a morte e a destruição. Os pesticidas são utilizados precisamente pela sua toxicidade e capacidade de envenenamento e compete às autoridades e não à sociedade civil, tomar medidas para que o Homem não esteja entre as principais vítimas. Mito – Os pesticidas são imprescindíveis na produção de alimentos Por último, o argumento de que sem pesticidas não é possível alimentar o mundo é posto em causa quando se analisam a fundo as verdadeiras causas da fome e outras formas de produzir alimentos como a agricultura biológica que proíbe o recurso a produtos químicos de síntese e mesmo assim é bem sucedida nos seus objectivos de produzir alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e sem impactos no ambiente e na saúde das pessoas como evidenciou a FAO em 2007. Os alimentos têm por objectivo nutrir e não destruir, pelo que é fundamental uma mudança no sistema alimentar que tenha por base a vida e não a morte. Fonte: Andre Leu, The Myths of Safe Pesticides - 2014 OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Artigo publicado no Jornal da Madeira em 02.03.2015
0 Comentários
A dúvida faz parte da condição humana. Se por um lado esta característica é benéfica, porque permite não aceitar tudo aquilo que nos impõem e apostar naquilo em que realmente acreditamos, por outro lado a incerteza gera desconfiança e pode comprometer a credibilidade de todo um sector! Logótipo da UE para a agricultura biológica O verdadeiro problema é por em causa sem tentar esclarecer, não reclamar quando se justifica, não perguntar directamente quando a dúvida se levanta. Não exigir garantias! A agricultura biológica é frequentemente questionada por agricultores que não acreditam, por consumidores que duvidam, por cientistas defensores de outras causas, pela indústria fitofarmacêutica que se move pelo lucro fácil, por gente sem argumentos só porque não! É um género de “preso por ter cão e preso por não ter”: Quando aparecem, no mercado, produtos pequenos, feios e deformados, perguntam como pode a agricultura biológica produzir com qualidade e em quantidade suficientes para satisfazer as necessidades de consumo? Quando surgem alimentos grandes, bonitos, maiores do que o normal para a espécie cultivada, questionam sobre se aqueles produtos não terão levado adubos químicos para crescerem mais e mais depressa, apesar do regulamento o proibir. A maior parte dos técnicos e dos agricultores acreditam que, sem pesticidas de síntese, não é possível fazer agricultura, mas admitem que os agricultores biológicos não fazem nada de mais ou de especial, porque os seus antepassados também o faziam! As próprias autoridades insistem que é necessário apoiar a agricultura biológica pela perda de produtividade que envolve a transição para um modo de produção mais amigo do ambiente, gerando dúvidas sobre a sua viabilidade, em vez de pagar pelos serviços que os agricultores biológicos prestam a favor da saúde dos consumidores e do planeta! Contudo, a dúvida gera conhecimento e traz também a necessidade de obter provas que fundamentem a autenticidade do produto em questão. A Agricultura Biológica dá-lhe garantias. Peça-as! O Modo de produção biológico é regulado por normas previstas em legislação específica (Reg (CE) nº 834/2007), sendo controlado e certificado por um organismo independente (neste momento existem 4 organismos acreditados na Madeira), que após verificar que o operador, seja ele agricultor, preparador ou importador, cumpre com todos os requisitos legais e processuais, emite um certificado de conformidade que deverá acompanhar o produto em todas as suas fases até ao consumidor final, que tem o direito de “ver para crer”. A venda dos produtos biológicos na própria exploração requer a emissão de factura e preenchimento da tabela de registos de venda facultada pelo organismo de controlo a que a exploração está submetida. O operador deverá ter o seu certificado de conformidade (garantia que é produto produzido em modo de produção biológica) devidamente actualizado para mostrar e/ou facultar ao consumidor, se o mesmo o solicitar. A venda de produtos biológicos no mercado local é notificada ao organismo de controlo. Caso o operador manifeste o desejo de comercializar produtos de outros agricultores biológicos deverá requerer a certificação como preparador. Os certificados de conformidade deverão estar fixados em local visível para que o consumidor possa ler, sempre que assim o entender. Em estabelecimentos ou locais onde sejam comercializados produtos convencionais e biológicos simultaneamente, os produtos biológicos deverão estar embalados e fisicamente separados dos restantes produtos. O operador deverá assegurar que os produtos biológicos são transportados em embalagens fechadas, de modo a que o seu conteúdo não possa ser substituído sem manipulação ou danificação do selo e devidamente identificados. Desde 1 de Julho de 2012, todos os produtos alimentares biológicos embalados na União Europeia, ostentam o símbolo europeu da Agricultura biológica, que identifica o modo como foram produzidos e transformados. O símbolo é composto por um fundo verde onde se vê o contorno de uma folha feito pelas 12 estrelas da União Europeia. As regras de rotulagem obrigam ainda à indicação do local de cultivo dos ingredientes e do código do organismo de controlo. Os consumidores que compram produtos com o logótipo da UE para a agricultura biológica podem confiar que:
Existem fraudes na agricultura biológica? Claro que sim. Como em qualquer outra actividade, existem oportunistas que tentam enganar o consumidor e existem pessoas que fazem referência ao modo de produção biológico, sem estarem devidamente certificadas. No entanto, qualquer não conformidade com o regulamento é punível por lei. Por outro lado, a rastreabilidade, o controlo e a pressão do consumidor são muito maiores no modo de produção biológico. A quantidade de amostras colhidas para análise, quer pelos organismos de controlo quer pelas autoridades competentes é também consideravelmente maior na agricultura biológica e os resultados, nomeadamente os avançados pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), nos seus relatórios anuais de pesquisa de pesticidas, provam que é muito mais seguro e saudável consumir bio! Para não se deixar enganar, conheça estas normas base, questione o produtor, questione a entidade certificadora, se necessário. Pela sua saúde, acredite nos produtores biológicos. Na dúvida, exija garantias! OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira
Artigo publicado no Jornal da Madeira em 21.06.2015 Artigo de Sílvia Sousa Silva e José Carlos Marques, associados da OrganicA, publicado na Revista MAIS do Diário de Notícias da Madeira, a 6 de Setembro de 2015.
Ultimamente têm surgido várias opiniões divergentes, relativamente ao pastoreio, pelo que não queremos deixar também de dar a nossa achega, seja ela mais ou menos legítima do que outras que têm sido avançadas. O que nós sabemos é que a presença dos animais, em determinadas zonas, não pode ser tratada de forma isolada, como se fosse ela, a única e principal causa de destruição da biodiversidade, da erosão e das alterações climáticas. Este facto, leva-nos a questionar algumas tomadas de posição, em que são apontadas “armas” ao gado mas que, por outro lado calam ou compactuam com outras acções muito mais destrutivas. Fotografia de Edgar RosaE então a perda de diversidade e a erosão que resulta da aplicação de herbicidas, sobretudo em zonas de montanha, espaços naturais ou ecológicos? Que dizer das substâncias tóxicas que são literalmente despejadas para controlo das espécies invasoras e eliminação de infestantes na reflorestação que resultam na criação de resistências, na contaminação dos aquíferos, na destruição total da vida do solo, que perde toda a sua fertilidade e capacidade de regeneração, e na redução da agregação que se traduz depois na erosão e escorrimento responsável pelos desmoronamentos e enxurradas? Será que importa apenas a biodiversidade que se vê e é de ignorar aquela que ocorre mesmo por baixo dos nossos pés e da nossa responsabilidade?
Num prado natural, a erva cresce na época das chuvas e começa a decompor-se nos meses mais quentes do ano, depois de produzir semente. Se esta erva não for consumida, antes da próxima estação de crescimento, começa a degradar-se lentamente através de um processo de oxidação que sufoca a própria pastagem e o solo, que acaba por ficar a descoberto e seco, com a libertação de carbono e impedindo a regeneração do prado. Nesta fase, dá-se uma alteração da flora, para a instalação da uma vegetação lenhosa, de crescimento rápido, como são normalmente as invasoras que queremos a todo o custo eliminar. O gado, o homem consciente e um maneio integrado da pastagem poderão reverter a situação a que chegamos. Está provado histórica e cientificamente, com exemplos, que o estabelecimento de um encabeçamento animal, com espécies e maneio adequados é uma importante ferramenta para a conservação sustentável em determinadas zonas e formações vegetais, permitindo a criação de solos férteis, capazes de assegurar a ressementeira natural dos cobertos vegetais, e ricos em matéria orgânica que permitem aumentar a retenção de água e do próprio solo. Os animais fazem o controlo dos materiais facilmente combustíveis, reduzindo os riscos de incêndio e permitem a presença vigilante do homem, graças à actividade económica que se gera. O sobre pastoreio e as consequências que acarreta resultam do tempo que os animais permanecem numa determinada parcela e do intervalo de tempo que levam a regressar à mesma área, factores que devem ser muito bem equacionados numa estratégia de regeneração de zonas erosionadas. Um pastoreio holístico e controlado pretende imitar os ciclos naturais do ecossistema, ao mesmo tempo que se adapta às necessidades e complexidade social, ambiental e económica do Homem moderno. A maioria dos madeirenses não dispensa o consumo de carne, elegeu a espetada como prato típico e esquece que a carne vem dos animais? Faz sentido que a gastronomia regional seja confeccionada com produtos importados? E esta carne que consumimos, de pecuária intensiva, engordada a rações, dentro de estábulos, não tem impactos ambientais? Aqui há gado, sempre houve, desde que o Homem para aqui veio, e sempre há-de haver. A questão é saber como tirar o melhor proveito desse facto. Vejamos os animais como aliados e um elo na sustentabilidade e honestidade que nos faltam! OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Artigo publicado no Jornal da Madeira em 16.03.2015 O Mundo dos nossos dias é cada vez mais exigente e quando compramos diariamente produtos/alimentos para consumo próprio muitas vezes nem nos damos ao trabalho de olhar, com olhos de ver, aquilo que estamos a introduzir nas nossas casas. Cada vez mais, a oferta é maior e temos de ser responsáveis na escolha do que consumimos sob pena de afectarmos a nossa saúde. Para isso, temos de saber mais acerca dos seus constituintes e da forma como são produzidos. Enquanto profissional de saúde tenho de reconhecer que, até há cerca de 3 anos, não estava muito desperta para a importância da exposição aos químicos de síntese, até ter sido confrontada com as conclusões de um estudo espanhol que me deixou a pensar. Neste estudo, foi pesquisada a presença de pesticidas no sangue do cordão umbilical de 308 grávidas saudáveis, tendo sido detectados em 100% das grávidas pelo menos um tipo de pesticida (a média era de 8)!
Mais do que os estudos, o constatar na minha prática clínica que estão a aparecer cada vez mais tumores e doenças autoimunes (doenças em que o corpo ataca-se a si próprio porque as nossas defesas identificam erradamente os tecidos como sendo “estranhos”) em adultos jovens, levou-me a ter mais interesse neste tema. Por mais que as pessoas possam ter predisposição genética para estas doenças, muitas vezes é necessário um fator desencadeante e este está frequentemente relacionado com o ambiente a que determinada pessoa está exposta. Neste contexto, acredito piamente que os químicos utilizados nos alimentos, na água, em alguns cremes hidratantes, desodorizantes, champôs, amaciadores, gel duche, sabonetes, pasta de dentes, verniz para as unhas, tintas para o cabelo, medicamentos e, surpreenda-se, até toalhitas para bebé, têm alguma coisa a ver com o assunto. Muitos fabricantes defendem-se afirmando que usam quantidades mínimas, não tóxicas nos seus produtos mas, se pensarmos que em média, cada um de nós usa diariamente entre 10 a 15 produtos, não custa acreditar que anos de exposição possam alterar o suficiente as nossas células para causar dano. Após alguma investigação e reflexão decidi então declarar guerra a estes compostos (ftalatos, laurilsulfato de sódio, parabenos, tricloroetileno, petroquímicos, etc…). Comecei a minha luta dentro da minha própria casa para depois conseguir transmitir e dar o exemplo aos meus pacientes. Primeiro, comecei por passar a consumir alimentos biológicos e remover os parabenos (químicos utilizados como conservantes, fungicidas e bactericidas e encontrados muito frequentemente em cosméticos). Nem queria acreditar que 3/4 dos produtos que tinha, tive de deitar no lixo, incluindo a solução oral para a febre da minha filha e as ampolas de ferro que tomei durante a gravidez. A partir daí nunca mais parei! E a lista de tóxicos não pára de crescer… Não adianta ficar indignado com as entidades reguladoras destes produtos porque nós, consumidores, é que temos o poder da mudança e de reverter esta situação ao não adquirir estes produtos. Não tenha receio de questionar os produtores dos alimentos que compra acerca da sua produção, opte por alimentos o mais isentos de químicos possível e verifique sempre a lista de ingredientes dos produtos que compra. Pela sua saúde e das gerações seguintes seja exigente nas suas escolhas! Por Catarina Dias Especialista em Medicina Interna Artigo publicado no Jornal da Madeira em 02.02.2015 “Nenhuma atividade humana, nem mesmo a medicina, tem tanta importância para a saúde do Homem como a agricultura”. Esta afirmação foi feita pelo médico francês Debelt, em 1945, no mesmo ano em que teve inicio a então denominada Revolução Verde. A intenção era boa, o objetivo seria aproveitar grandes extensões de terra e produzir a maior quantidade de alimentos possível com recurso a alta tecnologia e a combustível barato.
Assim, selecionaram-se as espécies e as variedades mais produtivas, conduzindo desde logo, ao empobrecimento da nossa dieta alimentar, passando a predominar o trigo, o milho e o arroz, com a inevitável perda de biodiversidade traduzida na extinção de mais de 75% das variedades usadas no início do século passado. Estas variedades mais produtivas, são também as mais sensíveis a pragas e doenças, conduzindo a uma crescente utilização de pesticidas, que além de provocarem a degradação dos solos, com a perda de 12 milhões de hectares todos os anos, levaram também à contaminação de toda a cadeia alimentar, nomeadamente da água, tornando este um dos recursos mais escassos e mais poluídos. À medida que cresce o poder de compra dos consumidores, aumenta o consumo de carne de criação intensiva que é responsável pela emissão de 18% dos gases com efeito de estufa, enquanto o sector dos transportes emite apenas 13% do total. Para aumentar a produtividade, os animais são alimentados com cereais, em vez de alimentos adaptados à sua fisiologia digestiva, tornando-os em seres pouco resistentes a doenças, que competem diretamente com o Homem na obtenção de alimentos, condenando à fome, populações inteiras. A disponibilidade de energia barata possibilitou a deslocação dos alimentos, sendo que atualmente os produtos alimentares viajam em média 3000 km até chegar à mesa dos consumidores, com a evidente perda de nutrientes, naturalmente presentes nos alimentos frescos e com os produtos químicos necessários para aumentar o prazo de conservação dos produtos. O uso generalizado de pesticidas, antibióticos e promotores de crescimento, tem graves consequências no ambiente e na saúde pública, nomeadamente o aparecimento das super bactérias resistentes aos tratamentos e que são responsáveis pela morte de milhares de pessoas, todos os anos, em ambientes hospitalares. Os efeitos cumulativos de ingestão continuada de alimentos contaminados, condenou a geração dos nossos filhos, fazendo com que esta seja a primeira da história moderna com uma esperança de vida menor que a dos seus pais. As orientações da Organização Mundial de Saúde para uma alimentação saudável, traduzem-se na recomendação de uma dieta equilibrada e diversificada, rica em fibras, estimulando o consumo de frutas, legumes, cereais integrais, carnes brancas e peixe branco ou azul, mas ignorando sistematicamente o modo como esses alimentos são produzidos, e o efeito cumulativo e de interação dos químicos, o que faz toda a diferença entre prevenir as doenças ou aumentar a sua incidência. O salmão por exemplo é considerado um alimento saudável por excelência, e de facto é quando se trata de salmão selvagem. No entanto, o aumento da procura por este peixe, tornou-o num animal de cativeiro, à semelhança da produção intensiva de carne, ao qual são fornecidos antibióticos e promotores de crescimento, a par de alimentos (peixe e cereais) que poderiam alimentar o homem diretamente em vez dos alimentos que ingeririam naturalmente no seu habitat, que os tornariam ricos em Omega 3. A maçã é outro dos alimentos associados a uma alimentação sã, e geralmente recomenda-se a preservação da casca de modo a fornecer mais fibra e mais vitaminas. No entanto, uma única maçã pode conter resíduos de mais de uma dezena de pesticidas, devido à generalização das variedades mais produtivas e mais apreciadas pelos consumidores, que são também as mais sensíveis a pragas e doenças. A situação é o resultado da ganância dos produtores e da falta de exigência do consumidor que se habituou, à monotonia das dietas de fraca qualidade, com a ingestão dos mesmos produtos, independentemente da sua época de produção e variando pouco nos ingredientes que compõem a sua refeição. OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Artigo publicado no Jornal da Madeira em 28.08.2014
Em Portugal, uma em cada três crianças tem excesso de peso! De acordo com a Comissão Europeia, Portugal está entre os países da europa com maior número de crianças afectadas por esta epidemia. A OMS estima que em 2020 (daqui a 5 anos!) a obesidade afecte 21% dos portugueses e 22% das portuguesas, valores que sobem em 2030 para 27% e 26% para cada um dos sexos. Se os nossos filhos comem vegetais no prato, até comem fruta, até bebem água, e até fazem muita coisa “dita” saudável, porque é que esta previsão é de pioria e não de melhoria?! Já pensaram nisto?! Aqui é que entram os escondidinhos, as bolachas, os iogurtes, as barras, os pães, os bolos, os doces, todos estes alimentos processados com um “ar perfeitamente” inócuo podem ter ingredientes que fazem muito mal aos nossos filhos. A ideia deste artigo, é pôr-vos a pensar um pouco e a questionar todos os alimentos que entram na lancheira das crianças. De uma forma prática devemos fazer o seguinte: 1º Compreender de onde vêm os alimentos. Vejamos o exemplo da maçã. De onde vem? Onde foi produzida? Como foi produzida? Podemos e devemos escolher sempre os nossos vegetais e fruta biológicos, de produção local e de época. (Sabiam que a maçã pode conter cerca de 30 a 40 pesticidas/herbicidas de uma lista de 115 produtos permitidos por lei em Portugal?!). 2º Ler a lista de ingredientes. Será que a bolacha Maria é mesmo só uma bolacha Maria? Além da carga de açúcar e de sal que as bolachas hoje em dia podem ter, as farinhas podem ser geneticamente modificadas e muitas vezes levam gorduras hidrogenadas e outros ingredientes que nem eu mesma sei o que são. Aventurem-se na cozinha, preparem bolachas, barras de cereais, mesmo bolos que os vossos filhos gostem e onde conseguem “manipular” a receita com ingredientes saudáveis, saborosos e que vão de encontro às preferências dos mais pequenos. 3º Envolver as crianças nas escolhas dos alimentos que querem. Eu compreendo que possa ser desafiante “mudar lancheira”, mas não vos estou a pedir que passem das “belgas para as cenouras”, façam mudanças graduais, semana a semana e envolvendo as crianças nas escolhas. As crianças estão ávidas por informação e muitas vezes aceitam melhor que os pais, as mudanças alimentares, quando bem fundamentadas. 4º Equilibrar nutricionalmente as lancheiras. Ter um alimento fresco, rico em vitaminas, minerais e fitoquímicos; ter uma fonte de proteína para a construção das células e uma fonte de gordura saudável para energia. Para ser mais fácil dou-vos exemplos: 1) um pão de cereais com uma fatia de queijo e umas cerejas da época; 2) uma banana, um iogurte natural e umas nozes e cajus. 3) uma barra de aveia e frutos secos, caseira com uma pêra e um queijinho redondo. Reforço, por mais complicada que possa parecer a mudança, não desistam, é urgente que mudem. Por eles, e por quem eles serão um dia! Boas escolhas alimentares, Nádia Brazão - Dietista no Plano D Nutrição em Blogue - nadiabrazaoplanod.blogspot.pt Artigo publicado no Jornal da Madeira em 01.06.2015 Contudo, não existe uma política nacional de alimentação que considere a produção e o consumo como um todo. O sistema e os comportamentos alimentares estão a causar prejuízos incalculáveis à saúde da população, aos solos, à água e ao ar.
Se uma potência estrangeira perpetrasse tais actos, seria considerada uma ameaça à segurança nacional, ou até um acto de guerra e o governo formularia um compreensível plano e uniria recursos para combate-la...mas sendo realizado por nós próprios, tudo é admissível e até subsidiado? Quando é possível prevenir centenas de milhares de mortes e doenças crónicas resultantes de maus hábitos alimentares e modos de produção agrícola destrutivos, esta não deveria ser uma prioridade nacional? Um plano integrado de alimentação deveria garantir, que todos, sem excepção, tivessem acesso a uma alimentação saudável; as políticas de produção deveriam garantir a saúde pública e a proteção do ambiente; os alimentos seriam livres de microorganismos patogénicos, químicos e medicamentos; a produção e comercialização de alimentos seria realizada de forma transparente; a indústria alimentar asseguraria boas condições de trabalho e ordenados justos às pessoas que emprega; o marketing alimentar asseguraria comportamentos alimentares saudáveis, motivando as crianças a comerem alimentos verdadeiros; seria efectivamente assegurado o bem estar animal; a pegada ecológica da produção alimentar seria reduzida e o sequestro do carbono nas explorações aumentaria e finalmente o sistema alimentar teria de ser resiliente ao ponto de minimizar os efeitos das alterações climáticas; Devido ao consumo de alimentos pouco saudáveis, retrocedeu-se 100 anos no estado da saúde e qualidade de vida das populações, sendo que actualmente as crianças têm uma esperança de vida menor do que a dos seus pais. Encontramo-nos nesta situação porque áreas como a segurança alimentar, a produção agrícola, a saúde, a comunicação, a segurança no trabalho, a qualidade do ar e da água, os subsídios à produção condicionam ou são condicionados pelo sistema alimentar, mas são tuteladas por serviços diferentes, com políticas próprias que nada têm a ver com interesse público. Se por um lado, a saúde recomenda uma alimentação diversificada, a agricultura incentiva a monocultura, se o objectivo é diminuir as taxas de cancro, como pode a politica agrícola continuar a estimular um modo de produção baseado na aplicação de produtos químicos, eles próprios cancerígenos? Se a solução é comer local, porque que é que se continua a dificultar a vida aos pequenos produtores e a incentivar a economia de escala, privilegiando a produtividade em vez da qualidade? Continuar-se-ia a promover o consumo de carnes brancas, em prol da saúde, sabendo a forma como as aves são criadas e alimentadas? É coerente incentivar a ingestão de alimentos saudáveis e continuar a cortar nos ordenados dos trabalhadores? OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Baseado em “How a national food policy could save millions of American lives” in Washington Post 7/11/2014 Artigo publicado no Jornal da Madeira em 19.01.2015 Os padrões de consumo e hábitos alimentares atuais levam muitas vezes a um grande desperdício na cozinha. Alimentos estragados ou fora de prazo, refeições que calculamos mal e acabam por não ser consumidas, partes de legumes que deitamos fora porque não as sabemos utilizar... cada vez consumimos mais e deitamos mais alimentos fora.
Se nos habituamos a consumir produtos da época, a dificuldade é acrescida, porque consoante a estação podemos ter muita quantidade de determinados produtos, mas são poucos aqueles com que podemos contar ao longo de todo o ano. E quantas vezes fazemos contas ao que gastamos em compras de alimentos, mas não contabilizamos o custo do que deitamos fora? Eis algumas dicas para reduzir o desperdício na cozinha e aproveitar ao máximo todos os benefícios dos alimentos frescos biológicos: 1. Planeamento acima de tudo. Programe os refeições da semana tendo em conta os produtos da época, o tipo de refeições que pretende fazer e o seu encadeamento, por forma a que os restos de uma refeição possam ser transformados noutra. Se fizer um frango assado numa refeição, transforme o que sobrar em recheios de crepes ou wraps, empadas, sanduiches, saladas... O truque é sempre pensar em várias refeições de forma integrada, tendo em conta um ingrediente principal; 2. Não deite nada fora! Os ossos do frango podem ser usados para fazer caldos caseiros, que por sua vez podem ser congelados. Junte-lhes as extremidades de cebola, cenoura, aipo, pimento, etc. que deve ir guardando no frigorífico. Sempre que tiver restos de legumes, pode fazer caldos de legumes caseiros para congelar e usar quando for preciso. Frite as cascas de batatas bem lavadas em azeite, alho e ervas, para uma deliciosa entrada! (Atenção, não use a casca da batata a não ser que seja biológica, para evitar os pesticidas e conservantes que aí se concentram). Use os talos dos brócolos, espinafres, couves, agrião na base das sopas. Desidrate as cascas de citrinos no forno, triture e dê cheiro e cor à flor de sal ou ao açúcar, por exemplo. 3. Congele, congele, congele. Lave, corte e prepare alimentos como brócolos, ervilhas, cenouras, cebolas, alho, ervas aromáticas, espinafres, frutos silvestres, etc. e coloque no congelador em sacos bem fechados. Se tem muita banana madura, corte aos bocados e congele em porções pequenas – basta triturá-la em alta velocidade num liquidificador para ter um excelente sorvete de banana como sobremesa. O mesmo pode ser feito com manga, morangos, frutos vermelhos, simples ou misturados com iogurte ou hortelã, por exemplo. Não se esqueça de congelar as ervas, bem como o pão que não comeu. 4. Quem não gosta de conservas? Compotas, pickles, conservas de legumes, doces, agridoces, salgadas... aproveite os produtos da época e transforme-os, existem mil e uma receitas para preservar frutas e legumes e saborear ao longo de todo o ano. 5. Pão e queijo: Rale a côdea do pão ou o pão seco para fazer pão ralado, ou salteie cubos de pão duro em azeite para fazer os seus próprios croutons. Utilize as aparas e sobras de queijo para preparar pratos de massa com queijo ou ralar para coberturas de refeições gratinadas. Faça pão-ralado parmesão para coberturas de gratinados e polme para fritos utilizando aparas de queijo parmesão e côdeas de pão ou pão duro. 6. Recicle! Se não conseguir pensar em mais nada para transformar restos de alimentos, transforme em composto!! Pelo menos podem ser aproveitados como fertilizante natural. OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Artigo publicado no Jornal da Madeira em 09.03.2015 |
AutorA OrganicA surge da vontade de partilhar a nossa experiência enquanto consumidores comuns: as preocupações que sentimos, as coisas que aprendemos, as descobertas que fazemos e as atitudes que tomamos em prol de uma alimentação mais saudável e de um mundo mais sustentável. Archives
Junho 2017
Categorias
Todos
|