Ultimamente têm surgido várias opiniões divergentes, relativamente ao pastoreio, pelo que não queremos deixar também de dar a nossa achega, seja ela mais ou menos legítima do que outras que têm sido avançadas. O que nós sabemos é que a presença dos animais, em determinadas zonas, não pode ser tratada de forma isolada, como se fosse ela, a única e principal causa de destruição da biodiversidade, da erosão e das alterações climáticas. Este facto, leva-nos a questionar algumas tomadas de posição, em que são apontadas “armas” ao gado mas que, por outro lado calam ou compactuam com outras acções muito mais destrutivas. Fotografia de Edgar RosaE então a perda de diversidade e a erosão que resulta da aplicação de herbicidas, sobretudo em zonas de montanha, espaços naturais ou ecológicos? Que dizer das substâncias tóxicas que são literalmente despejadas para controlo das espécies invasoras e eliminação de infestantes na reflorestação que resultam na criação de resistências, na contaminação dos aquíferos, na destruição total da vida do solo, que perde toda a sua fertilidade e capacidade de regeneração, e na redução da agregação que se traduz depois na erosão e escorrimento responsável pelos desmoronamentos e enxurradas? Será que importa apenas a biodiversidade que se vê e é de ignorar aquela que ocorre mesmo por baixo dos nossos pés e da nossa responsabilidade?
Num prado natural, a erva cresce na época das chuvas e começa a decompor-se nos meses mais quentes do ano, depois de produzir semente. Se esta erva não for consumida, antes da próxima estação de crescimento, começa a degradar-se lentamente através de um processo de oxidação que sufoca a própria pastagem e o solo, que acaba por ficar a descoberto e seco, com a libertação de carbono e impedindo a regeneração do prado. Nesta fase, dá-se uma alteração da flora, para a instalação da uma vegetação lenhosa, de crescimento rápido, como são normalmente as invasoras que queremos a todo o custo eliminar. O gado, o homem consciente e um maneio integrado da pastagem poderão reverter a situação a que chegamos. Está provado histórica e cientificamente, com exemplos, que o estabelecimento de um encabeçamento animal, com espécies e maneio adequados é uma importante ferramenta para a conservação sustentável em determinadas zonas e formações vegetais, permitindo a criação de solos férteis, capazes de assegurar a ressementeira natural dos cobertos vegetais, e ricos em matéria orgânica que permitem aumentar a retenção de água e do próprio solo. Os animais fazem o controlo dos materiais facilmente combustíveis, reduzindo os riscos de incêndio e permitem a presença vigilante do homem, graças à actividade económica que se gera. O sobre pastoreio e as consequências que acarreta resultam do tempo que os animais permanecem numa determinada parcela e do intervalo de tempo que levam a regressar à mesma área, factores que devem ser muito bem equacionados numa estratégia de regeneração de zonas erosionadas. Um pastoreio holístico e controlado pretende imitar os ciclos naturais do ecossistema, ao mesmo tempo que se adapta às necessidades e complexidade social, ambiental e económica do Homem moderno. A maioria dos madeirenses não dispensa o consumo de carne, elegeu a espetada como prato típico e esquece que a carne vem dos animais? Faz sentido que a gastronomia regional seja confeccionada com produtos importados? E esta carne que consumimos, de pecuária intensiva, engordada a rações, dentro de estábulos, não tem impactos ambientais? Aqui há gado, sempre houve, desde que o Homem para aqui veio, e sempre há-de haver. A questão é saber como tirar o melhor proveito desse facto. Vejamos os animais como aliados e um elo na sustentabilidade e honestidade que nos faltam! OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Artigo publicado no Jornal da Madeira em 16.03.2015
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AutorA OrganicA surge da vontade de partilhar a nossa experiência enquanto consumidores comuns: as preocupações que sentimos, as coisas que aprendemos, as descobertas que fazemos e as atitudes que tomamos em prol de uma alimentação mais saudável e de um mundo mais sustentável. Archives
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