Comentários da OrganicA – Associação de Promoção da Agricultura Biológica da Madeira À TOMADA DE POSIÇÃO da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal (AAPEF) representada pelo Doutor Raimundo Quintal. Intervenção florestal com mobilização de solo e evidentes sinais de erosão de solo - Maio 2018 Aproveitando que se comemora a semana do ambiente e ao mesmo tempo a época das tosquias, durante as quais se levantam vozes ameaçadoras e condenatórias da atividade, que atualmente é impraticável na Madeira, uma vez que nunca foi implementado ou adaptado à Região o regime de transumância ou utilização e movimentação sazonal de espécies de interesse zootécnico para pastagens de utilização comum; “Porque o retorno das formações vegetais indígenas às terras altas da cordilheira central é crucial para o desenvolvimento sustentável da Madeira, entendemos ser oportuno demonstrar”, com o apoio de factos e argumentos científicos 1,2,3,4,5,6,7,8 que é fundamental que seja equacionada uma forma de pastoreio que permita não só controlar os fogos florestais, reforçar a soberania alimentar, promover o desenvolvimento do mundo rural, mas também promover as condições para a regeneração dos ecossistemas de montanha, para que venham a ser efetuadas reflorestações com garantia de sucesso, sem o dispêndio desnecessário de recursos assumidos por todos nós; Com o objetivo de evitar que o mito de que o pastoreio é o responsável por todos os males que atingem o povo madeirense, se torne uma verdade ao fim de tantas vezes repetida a mentira, a Direção da OrganicA, com base em dados históricos, argumentos científicos 1,2,3,4,5,6,7,8 e em consonância com um vasto trabalho desenvolvido em prol do desenvolvimento sustentável, proteção do ambiente e saúde dos madeirenses, facilmente comprovado no terreno e conhecido de muitos, assume publicamente a seguinte posição : - Os incêndios mais temidos na Ilha da Madeira, com elevadas perdas humanas, e bens patrimoniais, ocorreram muito recentemente e já depois da retirada do gado das serras da Madeira. Arderam nos últimos anos:
Planalto Paul da Serra - Incêndios de agosto 2016 - Constatando-se que aumentou consideravelmente a frequência dos fogos e que, em apenas 1 ou 2 dias, o lume percorreu a Madeira de lés a lés, com uma velocidade de propagação nunca antes registada e com mais meios de combate, ao contrário do incêndio de 1919 que levou cerca de 15 dias a percorrer o território. As múltiplas notícias publicadas nos jornais permitem ter consciência da dimensão da catástrofe e do temor da população perante a impotência das entidades responsáveis pela segurança e ordenamento do território. - Mesmo durante a época em que as serras da Madeira estavam povoadas de animais de várias espécies, para matar a fome à população em crescimento e fazer face a necessidades básicas da altura, quando não existiam outras formas de o fazer, registaram-se vários incêndios de grande dimensão, não por culpa dos criadores, mas pela clara falta de ordenamento da atividade pelas entidades responsáveis. - O ordenamento do território (com a inclusão do pastoreio) é fundamental não só para a prevenção dos incêndios como também para a redução do risco de aluviões 3,4,5,6 através do enriquecimento do solo com matéria orgânica, que permite o aumento da retenção de água e a fixação dos agregados que evitam a erosão. Registe-se que em 2010 aconteceu a aluvião de 20 de fevereiro que levou a vida de 43 pessoas (+ 6 desaparecidos) e desalojou outras 1200 com prejuízos na ordem do 1080 milhões de euros (dados oficiais inscritos POSEUR). Serras de Santo António em visível estado de erosão - 2010 - Após 15 anos, desde a retirada do gado do Parque Ecológico do Funchal (PEF), a área sofreu uma considerável degradação, e desde 2003 já ardeu 3 vezes. Em 2010 o lume consumiu 90% da área do PEF e em 2016 ardeu 60%. - Reconhece-se que a pressão do pastoreio livre conduziu à destruição de importantes biótopos, nomeadamente nos ecossistemas de montanha. Contudo, em nosso entender, os principais motivos que levaram à intensificação da atividade, com o agravamento dos impactos no ambiente, foram impostos pela adoção de medidas legais, técnicas e políticas, nomeadamente a aposta na produção animal intensiva e no apoio à importação de carne barata, que retirou aos criadores qualquer possibilidade de competirem e sobreviverem num mercado global, obrigando-os a aumentarem os encabeçamentos, a apostarem em raças mais produtivas e também mais exigentes, a gastarem menos energia nas deslocações, a suplementarem com rações, a preocuparem-se menos com os recursos naturais e finalmente a tornarem o seu produto igual a todos os outros. Devido a estas opções políticas, a atividade do pastoreio na Madeira perdeu valor e rentabilidade e culminou no abandono dos animais na serra. A este nível, e a título de mero exemplo de como esta atividade poderia ser rentabilizada do ponto de vista económico, veja-se alguns casos de sucesso como os que têm vindo a vingar nos Açores, de produtos de grande qualidade com preço premium, produzidos artesanalmente e já com projeção nacional e internacional, como é o caso da Manteiga Rainha do Pico, entre outros; Serras de Santo António - 2017 - “Em 1995 foram retiradas 1300 ovelhas e cabras e em 1996 teve início o programa de reflorestação, com os objetivos de recuperar as formações vegetais primitivas; minimizar as condições de propagação de fogos; reduzir a erosão e diminuir os efeitos catastróficos das cheias; aumentar a infiltração das águas e reforçar as nascentes”, objetivos esses que nunca, até agora, foram alcançados; - O processo de retirada do gado das serras altas de Santo António, São Roque e Areeiro terminou em julho de 2003. Estas serras estão agora infestadas de espécies exóticas que as entidades oficiais tentaram, em vão, controlar com medidas ainda mais poluentes e destrutivas, nomeadamente com a aplicação de herbicidas de largo espetro que matam toda a vida do solo e contaminam as águas subterrâneas, com mobilizações de solo que têm provocado a erosão e perda de solo, assim como a disseminação de sementes de invasoras, num trabalho que se mostra visivelmente inviável e esbanjador de dinheiros públicos; - A Secretaria Regional dos Recursos Naturais acordou com três cooperativas de criadores que no perímetro florestal do Poiso poderiam apascentar 600 cabeças de gado ovino, com apoio nos ovis do Chão das Feiteiras, do Chão das Aboboreiras e da Ribeira dos Boieiros. Quem diariamente acompanha os animais não são os donos, mas trabalhadores da Direção Regional de Florestas (agora Instituto das Florestas e Conservação da Natureza). Cada criador paga no entanto, um valor por cada animal que detém. Com o dinheiro recentemente oferecido pelo Governo Regional, sugeríamos que as cooperativas comprassem novos rebanhos e perguntassem ao Instituto das Florestas e Conservação da Natureza o que fazer com eles, uma vez que não existe atualmente uma política oficial integrada para o setor pecuário, transversal a todos os serviços com competência na matéria. Na verdade, o que se nota é uma total disfunção entre quem decide as estratégias globais e os apoios financeiros, a Secretaria Regional de Agricultura que deveria adaptar e tutelar a transumância e movimentação de animais entre explorações e a Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais, que tem nas suas competências o pastoreio em áreas florestais e protegidas e inclusivamente, a Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura que poderia tirar partido da dinamização desta atividade não só em termos comerciais como turísticos e culturais. Vaca morta nos incêndios de agosto de 2016. Encontrava-se em tereno vedado, sem possibilidade de fugir e a velocidade dos fogos não permitiu que os donos a soltassem. - Porque não existe uma estratégia global integrada para o pastoreio na Madeira, com definição das regras por pessoas competentes que percebam efetivamente de pastoreio e de comportamento animal, com o apoio de conhecedores de outras áreas científicas, não existe atualmente pastoreio controlado na Madeira. É nossa convicção, contudo, que com uma definição clara das áreas, dos percursos, do sistema de pastoreio e espécies a introduzir consoante os objetivos de longo prazo a alcançar, não só em termos agrícolas como ambientais e económicos, seria possível desenvolver o pastoreio e a silvo pastorícia e usá-lo como uma ferramenta de ordenamento do território, acautelando a segurança de pessoas e bens para além da atividade económica que geraria. - Continuamos à espera de argumentos científicos que responsabilizem diretamente os animais e não o Homem, pela degradação do ambiente. Enquanto isso, multiplicam-se e estão disponíveis para consulta 2,10,11,12 e visita, casos de sucesso, em todo o mundo, que utilizam sabiamente os animais na recuperação de áreas degradadas e com impactos positivos nos ecossistemas, tenham eles originalmente evoluído com ou sem a presença de animais herbívoros; - Há no entanto aqui e em suma, exemplos de rebanhos mal vigiados, que tanto as entidades competentes, assim como os opositores de qualquer forma de pastoreio, usam como pretexto ou para dizer que a atividade é permitida ou para dizer que a atividade é destrutiva, conforme dá mais jeito ou melhor serve os propósitos de cada um. Paul da Serra, pastagens de altitude em solos pobres maio 2018. A OrganicA é frontalmente a favor da manutenção de manadas e rebanhos no Parque Ecológico do Funchal, considerando esta uma das soluções sustentáveis de regeneração desta área, fundamental para a segurança das populações a jusante e da passagem de animais de várias espécies, consoante o objetivo a alcançar, devidamente acompanhados, nas terras altas do Maciço Montanhoso Central e no Paul da Serra / Fanal, de forma a promover a ativação da vida do solo e das condições necessárias para a recuperação dos ecossistemas de montanha e da vegetação natural, numa fase posterior.
A OrganicA defende, desde sempre, diversas formas de pastoreio, que deverão adequar-se na forma, na espécie e sob a vigilância de diferentes intervenientes consoante o objetivo e as zonas onde é desenvolvida, não sendo necessário a intervenção ou autorização do IFCN em áreas fora do perímetro florestal e cabendo aos proprietários e detentores dos animais, cumprir com as normas que venham a ser definidas e apoiadas como uma atividade que mais do que um setor produtivo seja encarada como uma estratégia de ordenamento e sustentabilidade do território. A OrganicA entende que a redução do risco de incêndio (número de focos e área ardida) só acontecerá quando todos os intervenientes e primeiros beneficiários compreenderem que deve haver uma estratégia integrada de prevenção e que os proprietários dos terrenos só vão tomar a iniciativa de limpar e manter os seus terrenos livres de materiais combustíveis e outros riscos associados, se sentirem que daí poderão tirar proveito próprio, para além da salvaguarda do bem comum. A manutenção de prados ou pastagens de altitude, sejam eles semeados ou espontâneos implicam necessariamente a introdução de animais que ao consumirem parcialmente a vegetação existente e provocando o tombamento do restante para o solo, promovem uma barreira à incidência direta da luz do sol sobre o mesmo, permitindo o contacto da parte aérea da planta com a humidade existente no solo, assim como uma elevada inoculação microbiológica provocada pelo depósito de urinas e fezes dos animais, em trânsito2. Assim, regista-se uma decomposição da matéria orgânica com benefício para o solo, desprende-se o dióxido de carbono gasoso que ao combinar-se com a água, forma o ácido carbónico, um excelente solubilizador natural dos minerais necessários à nutrição das plantas. Esta mistura de humidade com carbono e a elevada carga biológica é por assim dizer a combinação ideal para o arranque do sistema e para a recuperação rápida das funções do solo e desenvolvimento e sucessão vegetal. O controlo de espécies espontâneas, tornadas invasoras por incúria do homem, em grandes extensões não pode, de forma alguma ser feita sistematicamente com recurso a máquinas, combustíveis fosseis e esbanjamento de dinheiros públicos. A OrganicA é uma Organização Não Governamental sem fins lucrativos com 5 anos de trabalho voluntário e reconhecido, na área da defesa do ambiente e da saúde pública assumindo desde sempre uma linha de ação consentânea com os seus objetivos pelo que todas as suas intervenções, atuações e tomadas de posição têm um denominador comum. Ao mesmo tempo que defendemos uma alimentação livre de químicos de síntese, um modo de produção agrícola saudável e sustentável, a adoção de comportamentos conscientes e responsáveis em defesa do ambiente, defendemos também o pastoreio e a silvopastoricia como uma ferramenta de ordenamento e recuperação do território. Não entendemos que pessoas ou entidades que se dizem ambientalistas e que com esse argumento reprovam a atividade pecuária extensiva, defendam ou legitimem a utilização de herbicidas em espaços públicos e desvalorizem a agricultura biológica. Assumimos publicamente esta posição a favor da legalização e regulação do pastoreio em nome da Direção da OrganicA, mas não representamos a opinião de todos os nossos associados que têm obviamente a liberdade de pensar diferente. Assim, estamos disponíveis para apoiar os criadores e entidades oficiais que queiram efetivamente dinamizar e reativar o pastoreio, e nessa perspetiva estaremos na primeira linha para ajudar a definir as linhas de estratégia para o setor, se assim o entenderem. A água, o solo e a biodiversidade são recursos vitais, que não podem ser delapidados nem usados em troca de protagonismos. Funchal, 07.06.2018 A Direção da OrganicA 1 CONSERVATION GRAZING An Opportunity for Land Trusts and Conservation Organizations – Pepper, Justin National Audubon Society 2 https://www.ted.com/talks/allan_savory_how_to_green_the_world_s_deserts_and_reverse_climate_change/transcript - fevereiro 2014 3 https://www.youtube.com/watch?v=nvAoZ14cP7Q – agosto 2015 4 http://e360.yale.edu/feature/soil_as_carbon_storehouse_new_weapon_in_climate_fight/2744/OECD/FAO (2012), OECD-FAO Agricultural Outlook 2012-2021, OECD Publishing and FAO.http://dx.doi.org/10.1787/agr_outlook-2012-en 5http://www.amazingcarbon.com/PDF/JONESOurSoilsOurFuture(8July08).pdf%20Epopeia%20Rural%20-%20Prof.%20Vieira%20Natividade.pdf 6 http://darwin-online.org.uk/converted/pdf/1881_Worms_F1357.pdf 7 http://souciant.com/2012/02/reversing-africas-decline/ 8 http://www.theland.com.au/news/agriculture/cattle/general-news/more-livestock-is-climate-change-key/2218226.aspx?storypage=0 9 ‘Efectos del abandono de la ganadería extensiva en la estructura espacial y temporal de ecosistema tradicionalmente gestionados’ – Lugo, Silvia Fernández 2014 10 Associação Transumância e Natureza - https://www.atnatureza.org/ 11 https://www.ecosystemrestorationcamps.org/ 12 Rede de áreas erva-Firewall Da Andaluzia
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Com o objetivo de fazer um levantamento dos principais obstáculos ao desenvolvimento da produção em Agricultura Biológica e consumo de produtos biológicos, a Agrobio – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica lança um ciclo de encontros regionais pelo país para reunir produtores e consumidores de produtos biológicos. Esta iniciativa será concretizada no Funchal, através de duas ações independentes:
Reserve já as datas! A participação é gratuita, mediante pré-inscrição aqui. OrganicA – Associação de Promoção da Agricultura Biológica da Madeira
Os animais, sobretudo os ovinos e caprinos, têm sido, literalmente, o bode expiatório da falta de estratégia para o ordenamento do território e mais ainda para a inércia e impotência perante as ameaças que são os incêndios e as aluviões. Face a meia dúzia de pessoas, que apresentam soluções concretas para combater a raiz do problema, apontando nomeadamente para a reabilitação do pastoreio, os serviços do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN) afirmam que o pastoreio controlado existe, é apoiado oficialmente e a prova disso é que, de acordo com a Secretária do Ambiente e dos Recursos Naturais, em entrevista à RTP Madeira, durante o ano de 2017, foram emitidas 17 licenças de apascentação. Mas o que são estas licenças de apascentação? A apascentação, ou melhor dizendo, a sua proibição, está regulamentada na Madeira pelo Decreto Legislativo Regional 35/2008/ M de 14 de agosto, que estabelece o regime de proteção dos recursos naturais e florestais e revoga o Decreto Legislativo Regional que regulamentava o regime silvo pastoril. De acordo com o documento, é proibida a livre apascentação das espécies asinina, bovina, caprina, equídea, ovina e suína e ainda de outras espécies que considerem que coloque em causa a conservação do solo, das águas e do coberto vegetal, nas áreas do domínio público ou privado da Região Autónoma da Madeira, ou de outra pessoa coletiva de direito público e terrenos baldios (ou seja em todo o lado), sendo os animais aí existentes considerados em estado selvagem e portanto, suscetíveis de serem abatidos sem dó nem piedade (apesar da Região clamar para si, o pioneirismo na proteção dos animais). Contudo, o IFCN pode emitir autorizações para os animais pastarem desde que, sejam apresentadas áreas com orografia adequada(!!!), boas condições de encabeçamento!!!! e coberto vegetal adequado!!! num conjunto de critérios subjetivos e impercetíveis, surpreendentemente aprovados e publicados em forma de lei, que atribui competências do sector agrícola e pecuário, a serviços e agentes direcionados apenas para a proteção dos recursos florestais e conservação da natureza. De fora da necessidade de pedir licenças de apascentação ficam apenas as explorações que mantêm os animais em estabulação permanente ou que praticam a apascentação à corda, numa clara promoção de modos de produção que condicionam o bem-estar animal. Note-se ainda que o requerimento para apascentação deve ser acompanhado de prova da titularidade da área abrangida para o pastoreio, o que elimina à partida a possibilidade de transumância e de todas as vantagens inerentes a um sistema de pastoreio em movimento que, ao mesmo tempo que providencia alimento suficiente para os animais, elimina povoamentos indesejáveis e permite que o coberto vegetal e o solo descansem, recuperem e regenerem. Na última “Feira do Gado”, em junho de 2017, o Secretário Regional da Agricultura e Pescas afirmou que os seus serviços licenciaram mais de 500 explorações pecuárias em apenas 1 ano. Ora, é na sequência do registo da exploração que os serviços da Direção Regional de Agricultura recomendam ao produtor, por ofício, a solicitação da licença de apascentação aos serviços florestais, sempre que os animais tenham ou venham a ter, acesso a áreas de ar livre mesmo que seja dentro do jardim ou da exploração, independentemente da sua localização. De fora da licença de apascentação ficam apenas as explorações que mantêm os animais em estabulação permanente (dentro do palheiro a vida toda) ou que praticam a apascentação à corda, ou seja, com animais sempre amarrados, numa clara promoção de modos de produção que condicionam o bem-estar animal. Contas feitas por alto, das 500 legalizações de explorações pecuárias pelos serviços da DRA, resultaram apenas 17 licenças de apascentação emitidas pelo IFCN para quintalinhos vedados, desde o mar até à serra, aliás, na serra não, porque os animais que por lá andam pertencem a associações de produtores com licenças antigas. O número reduzido de licenças ou significa que os serviços da DRA não estão a trabalhar bem e não conseguem incentivar o acesso dos animais ao ar livre ou que os produtores, apesar das recomendações, não chegam a pedir licenças porque não compreendem ou não concordam com a obrigação de ter de pedir uma autorização, aos florestais, para ter um animal solto dentro da sua exploração agrícola ou ainda que os técnicos dos serviços florestais não consideram estar reunidos os requisitos necessários para o pastoreio, talvez por acharem o chão demasiado inclinado, ou porque o produtor tem 2 animais, quando pelas suas contas devia ter 1,5. Os serviços do IFCN estimulam o pastoreio contínuo, em que o gado é deixado no esmo espaço, todos os dias, sobrepastoreando e selecionando a sua erva preferida, eliminando as plantas e destruindo o solo. Assim se resume o pastoreio controlado que atualmente existe na Madeira. Um "pastoreio contínuo", apesar de recomendarem a rotação em espaços reduzidos, em que o gado é deixado na mesma parcela, todos os dias, sobrepastoreando e selecionando a sua erva preferida, eliminando as plantas e destruindo o solo. Causando poluição por nitratos com o excesso de deposição de estrume e colocando em causa a saúde dos animais e das pessoas que os consomem, pelo maior risco de infestação por parasitas, porque o seu ciclo de vida nunca é interrompido e diminuindo a rentabilidade de uma atividade que podia ser lucrativa, uma vez que aumentam as rejeições das carcaças ou órgãos em matadouro e porque obriga à aquisição e distribuição de rações a animais que poderiam facilmente crescer e engordar apenas com erva, se os deixassem. Quem nos lê ou segue poderá questionar porque insiste a OrganicA no tema do pastoreio, quando à primeira vista não é essa a nossa área de atuação. No entanto, importa lembrar que a agricultura biológica promove a integração da pecuária nas explorações agrícolas, fomentando os sistemas mistos, mais sustentáveis e que o declínio da pecuária condiciona o desenvolvimento do modo de produção biológico que tem o estrume animal na base da gestão da fertilidade dos solos. Por outro lado, o pastoreio, com a utilização de superfícies agora ao abandono, permitiriam a obtenção de carne de qualidade, devidamente certificada, colmatando um défice na oferta de produtos pecuários biológicos a preços acessíveis. Finalmente, nós conseguimos compreender, a importância do pastoreio, na criação de emprego, na produção de alimentos, na regeneração rápida dos ecossistemas e na recuperação, manutenção e limpeza de áreas agrícolas e florestais e ver esta atividade como solução para vários problemas que a Região enfrenta atualmente, como o desenvolvimento económico sustentável, a segurança da população e a preservação do ambiente, temas que obviamente preocupam-nos a todos. OrganicA – Associação de Promoção da Agricultura Biológica da Madeira
A intensificação da agricultura, o recurso a maquinaria pesada e desadequada, com a destruição da estrutura do solo, as mobilizações excessivas e a utilização de herbicidas com a eliminação da vida do solo tem causado a destruição de milhares de hectares de terra em todo o mundo. Atualmente 25% da área agrícola mundial está degradada ou em risco de erosão devido às técnicas utilizadas na agricultura intensiva, sendo que, em cada ano, perdem-se 12 milhões de hectares, o equivalente a 0,8% da Superfície Agrícola Útil do Planeta. Um estudo de 2014, realizado por investigadores da Universidade de Aveiro, concluiu que as misturas de pesticidas utilizadas na agricultura para combater as pragas estão a provocar efeitos colaterais nos organismos que regeneram o ecossistema terrestre, colocando em causa a saúde dos solos. O estudo aponta, como exemplo, o chamado "remédio dos caracóis" que acaba por matar outros organismos como bichos-de-conta, minhocas e outros invertebrados benéficos para o solo. Nos últimos dez anos, a qualidade dos solos portugueses caiu e a aridez aumentou por causa das alterações climáticas. Mais de um terço do território nacional apresenta sinais de degradação e mais de metade dos solos, cerca de 52%, apresentam "grande ou elevada susceptibilidade de desertificação”, situação agravada com os incêndios registados, nos últimos anos, no nosso País. O problema da erosão do solo e da desertificação física é muito grave, constituindo a maior ameaça para a sustentabilidade da agricultura e, a continuar assim, o problema da fome no mundo tem tendência a agravar-se. O solo, ou a “epiderme da Terra” é uma fina camada à superfície do globo que demora milhares de anos a formar-se. É um recurso não renovável a curto e médio prazo sendo necessários cerca de 2 séculos para se formar 1 cm de espessura de solo a partir da rocha-mãe, mas em terrenos com elevada inclinação ou declive, como os que existem na Madeira e não protegidos por vegetação, bastam alguns aguaceiros para arrastar esse solo. A utilização de químicos de síntese na agricultura aumentou exponencialmente desde que a ciência e a tecnologia inventaram os pesticidas e os fertilizantes. Estes produtos químicos não são produzidos naturalmente no ambiente e por esse motivo a natureza não tem a capacidade de os transformar ou absorver. Como resultado, estes produtos tóxicos vão-se acumulando no solo e gradualmente reduzem a sua qualidade. Outros químicos destroem a composição e estrutura dos solos que se tornam mais vulneráveis à acção da água e do vento, acabando por serem arrastados. Por outro lado os agricultores não gostam de ver erva nos seus terrenos, utilizando demasiadas vezes máquinas de mobilização que deixam o solo solto e nu. O solo está repleto de vida, alojando um quarto da biodiversidade do nosso planeta. As minhocas são apenas uma das espécies visíveis. À medida que as minhocas se deslocam pelo solo, alimentam-se com partículas de terra, substâncias orgânicas, microflora e microfauna e vão construindo uma ramificada rede de galerias que tem um efeito positivo sobre a circulação do ar e da água, sobre a sua retenção e na capacidade de desenvolvimento e progressão das raízes no solo. Os microorganismos do solo estabelecem diversas interacções que influenciam a qualidade do solo e o crescimento das plantas. As populações microbianas estão envolvidas em processos como a decomposição da matéria orgânica, a reciclagem dos nutrientes, o sequestro do carbono, a modificação das propriedades físicas e químicas do solo e a regulação do estado sanitário das plantas. Muitas bactérias associadas às raízes, influenciam o crescimento das plantas através da produção de hormonas vegetais, pelo aumento da disponibilidade de nutrientes e da resistência aos agentes patogénicos. Os fungos são capazes de degradar substratos complexos, difíceis ou impossíveis de utilizar, transformando-os em nutrientes de fácil absorção. A conservação dos solos agrícolas e da sua diversidade depende em primeiro lugar dos agricultores, dos produtores pecuários e das técnicas que utilizam para produzir as suas culturas e criar os seus animais. Evitar a erosão, ou seja o arrastamento do solo, é prevenir a sua desagregação e a dispersão das partículas que o constituem e isto é conseguido através da melhoria das propriedades do solo, nomeadamente através do empalhamento, da não mobilização, do pastoreio extensivo, diminuindo a sua exposição aos agentes erosivos como o vento e a água. A agricultura biológica e a pecuária regenerativa, por exemplo, têm como um dos objectivos principais proteger o recurso solo, mantendo ou melhorando a sua fertilidade a longo prazo, orgulhando-se de contribuir para a sustentabilidade da agricultura e para a preservação do ambiente e segurança e saúde das pessoas. Facilmente se percebe o impacto das nossas opções, enquanto consumidores, na saúde do Planeta. Sabendo isto, faça escolhas conscientes e responsáveis, optando por produtos que protegem o solo, recurso fundamental para a nossa sobrevivência. OrganicA – Associação de Promoção da Agricultura Biológica da Madeira
É já no próximo fim-de-semana, dias 15 e 16 de julho, no Madeira Panorâmico Hotel no Funchal, que decorrerá o Workshop "Fazer da cozinha uma farmácia" com Gabriel Mateus, fundador e presidente da Associação Projeto Safira, uma associação sem fins lucrativos, fundada em 2013, que presta apoio a doentes oncológicos e promove ações de esclarecimento sobre a prevenção do cancro e promoção da saúde. No âmbito das atividades promovidas pela Associação, Gabriel Mateus criou um curso teorico-prático sobre o papel da alimentação na prevenção do cancro com o nome “Fazer da Cozinha uma Farmácia”. Vivemos um tempo de excessos alimentares em que as doenças não-transmissíveis são a principal causa de morte em todo o mundo. Uma grande parte dessas doenças poderia ser evitada se alterássemos os nossos hábitos de estilo de vida, nomeadamente fazendo uma alimentação de base vegetal. Este workshop é uma versão resumida e concentrada do curso “Fazer da Cozinha uma Farmácia”, onde se procurará transmitir uma informação útil, prática e bem fundamentada sobre nutrição saudável e sustentável, assim como colocar em prática todo esse conhecimento e transformá-lo em poder pessoal na forma de refeições nutritivas e saborosas. O Workshop será dividido numa componente prática (16 de julho), com a formadora Patrícia Medeiros, no qual serão feitos menus de degustação ao longo do dia, e numa componente teórica (15 de julho), no qual serão abordados os seguintes temas:
Gabriel Mateus tem Mestrado em Nutrição Clínica (Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz), assim como um curso prático de Nutrição e Dietética (Instituto Profissional de Estudos da Saúde). Além disso é licenciado em Ciência das Religiões (Universidade Lusófona) com Mestrado em Western Esotericism (Universidade de Exeter) e dá aulas na Universidade Lusófona em cursos livres e no Mestrado de Ciência das Religiões. OrganicA – Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira
A conservação da natureza é o conceito que está na base da política de criação dos parques naturais e que, de acordo com a Diretiva 92/43/CEE do Conselho de 21 de Maio, consiste num conjunto de medidas que buscam a utilização racional dos recursos naturais, ou seja, a proteção desses recursos numa perspetiva de sustentabilidade, que permite o seu uso mas garante a sua renovação. Atualmente, o estabelecimento de zonas protegidas é, em todo o mundo, a forma mais comum de conservação, in situ, da biodiversidade, mas, frequentemente com regras que restringem o acesso da população a recursos importantes, com um impacto negativo sobre o seu bem-estar social e económico que conduz inevitavelmente a um sentimento de injustiça, sobretudo quando os terrenos são sua propriedade, que acabam por dificultar o objetivo inicial traçado, por falta de apoio da população afetada. O Decreto Regional nº 14/82/M que, em Outubro de 1982, criou o Parque Natural da Madeira refere claramente que “a instalação do Parque só é possível com o ordenamento silvo-pastoril que condicione o pastoreio a zonas bem determinadas e que pressione o rebanhamento dos gados”, apesar de assumir a importância de “promoção económica, social e cultural das populações, abrangidas na sua área, com participação ativa das mesmas, de maneira que o Parque Natural, seja uma forma orgânica de desenvolvimento, com respeito pelas bases biofísicas e ecológicas do ambiente e pelas tradições culturais das populações.” Enquanto o conceito de preservação da natureza aponta para o homem como o causador de todo e qualquer desequilíbrio, e a sucessão biológica, definida como uma série de mudanças que um sistema ecológico vai sofrendo, de forma espontânea, ao longo do tempo, implica necessariamente a ausência de intervenções humanas ou flutuações que interrompam o processo, numa aspiração clara de regresso à natureza selvagem, a conservação, objetivo das zonas protegidas, defende o uso racional dos recursos e o maneio correto do meio ambiente pelo homem, assumindo-o e aceitando-o como parte integrante do processo. Reforçando, a conservação da natureza centra-se na manutenção do bom estado do ambiente natural, incluindo a fauna, a flora, os recursos minerais, a paisagem, os habitats e a biodiversidade, sem contudo excluir o uso humano de todos os ecossistemas. Infelizmente, a perspetiva da conservação da natureza, na Madeira adotou uma postura demasiado sucessionista (isto se não considerarmos a aplicação de herbicidas, o desmate e queima de biomassa) tentando erradicar algumas atividades humanas e esquecendo por completo que a utilização dos recursos naturais são fundamentais para a fixação e sobrevivência das populações rurais, esquecendo também que é possível conciliar exploração e conservação e negligenciando a importância de manutenção de determinadas atividades agrárias e florestais para a sustentabilidade da nossa Região. Fig. 1 – A atividade pecuária é fundamental na fixação das populações rurais, no desenvolvimento económico das regiões com a criação de emprego, na sustentabilidade dos sistemas agrícolas e na regeneração dos ecossistemas. É óbvio que os pastores nunca pensaram na conservação da natureza como um objetivo ou um fim em si mesmo. Quantos de nós o faz, diariamente, na sua vida profissional? Mas eles, mais do que ninguém, sempre tiveram todo o interesse em assegurar a continuidade e preservação dos recursos e condições das quais dependiam para desenvolver a sua atividade produtiva e a sua própria sobrevivência. É o princípio que está na base da criação dos animais para a obtenção do estrume e também da transumância, com a movimentação dos animais de modo a permitir a regeneração das pastagens e a alimentação dos rebanhos sem necessidade de aquisição de fatores externos. É a sustentabilidade, que agora tanto se fala, mas que eles sim, praticavam. Também é certo que a pressão demográfica da sociedade rural, nomeadamente através do pastoreio, conduziu à destruição de importantes biótopos, mas os principais motivos, que levaram à intensificação da atividade, com o agravamento dos impactos no ambiente foram impostos por princípios capitalistas e industriais, com a aposta na produção animal intensiva, sem qualidade, mas barata, sem respeito pela natureza, mas acessível, retirando aos pastores qualquer possibilidade de competirem e sobreviverem num mercado onde quase todos falam em sustentabilidade mas quase ninguém a cumpre, obrigando-os a aumentarem os encabeçamentos, a apostarem em raças mais produtivas e também mais exigentes (veja-se a mais recente orientação oficial, com a aposta na raça Limousine), a gastarem menos energia nas deslocações, a suplementarem com rações, a preocuparem-se menos com os recursos naturais e finalmente a tornarem o seu produto igual a todos os outros, perdendo valor e rentabilidade, criando “só para casa” ou para patuscadas como acusam os que não querem pagar o justo valor pelos produtos de qualidade, que respeitam o ritmo da natureza! Fig. 2 – Embora se afirme que o pouco pastoreio que existe atualmente na Madeira é controlado, a verdade é que embora regulado pelo Decreto Legislativo Regional nº 35/2008/M e autorizado pelo IFCN, este tipo de pastoreio livre, não traz benefícios, uma vez que se os animais permanecerem por longos períodos no mesmo espaço, dão preferência à ingestão dos rebentos novos, não permitindo que a pastagem recupere do corte, provocando a sua degradação. Habituados aos invernos rigorosos da serra e às árduas tarefas agrícolas, os pastores encontravam-se perfeitamente acomodados às privações que este tipo de clima e trabalho os obrigou a ter na vida, traduzida, com certeza, numa pegada ecológica mais baixa (houvesse o termo na altura) que muitos outros que lhes apontam o dedo! Mas, naturalmente empurrados pelas imposições legais, pelas proibições (talvez seja preciso lembrar que agora só não existem pastores a tempo inteiro na Madeira porque aqui a atividade é considerada ilegal), pela necessidade de sobrevivência, pela dureza do ofício e pela procura de melhores condições de vida entregaram-se a outras profissões, abandonando a pastorícia. Ainda assim, convém lembrar que grande parte dos espaços naturais protegidos conservou os seus valores ambientais graças ao uso racional dos seus recursos, feito pela população durante séculos. Um dos principais usos produtivos foi a pecuária extensiva, cujo abandono, devido à perda de rentabilidade ou pela intensificação, traduz-se em impactos negativos sobre a conservação destes espaços porque em determinados ecossistemas, conservar significa explorar, obviamente sem destruir, sem esgotar! Significa Intervir, pastar, desbastar, retirar, colher, aproveitar, transformar os recursos em receitas e sustento. Mais importante do que preservar, é conservar, reabilitando certos sistemas de integração e maneio, capazes de gerir e aproveitar os recursos locais disponíveis, sem os degradar. Segundo Campos e Carrera (2004) citados por Izquierdo (2008) a conservação não devia centrar-se em recuperar a integridade ecológica virgem, com uma tentativa de retrocesso de vários milhares de anos, sem saber exatamente quando parar, mas antes preservar a interação harmoniosa entre a natureza e cultura, através de praticas tradicionais de utilização das terras e da natureza, nomeadamente em determinadas zonas aptas para suportar a exploração continua, como são as pastagens, capazes de responder positivamente ao pastoreio sem deixarem de ser ao mesmo tempo belas paisagens, ricas em biodiversidade e infra-estruturas ecológicas, fundamentais para garantirem o sustento e a segurança das populações, nomeadamente contra a progressão dos incêndios e a retenção de água em altitude, prevenindo os aluviões. Fig. 3 – As autoridades são contra e proíbem o pastoreio, argumentando que os animais interrompem a sucessão natural e destroem o ambiente, mas admitem e aplicam herbicidas que matam as plantas, contaminam a água e o solo, provocam erosão e colocam em causa a saúde pública. Para evitar ressentimentos é importante alcançar um equilíbrio entre os interesses conservacionistas e os direitos de uso dos proprietários e residentes no território, permitindo o aproveitamento de acordo com os objetivos de ambas as partes, sabendo que, no caso do pastoreio, desde que bem orientado, em sistema de transumância, a atividade pode gerar desenvolvimento económico, ajudar no combate à pobreza nas zonas rurais e ao mesmo tempo prestar um serviço à Região com a conservação de ecossistemas, cuja manutenção e/ou reabilitação são de extrema importância para a sustentabilidade e segurança do território. Convém perceber de uma vez por todas, que ninguém vai limpar os terrenos de ânimo leve, se daí não tirar qualquer proveito, além da proteção do bem comum. Concluindo, relembramos que a origem dos espaços naturais protegidos, resultam da vontade de evitar o desaparecimento de lugares excecionais, destacados pela grandiosidade das suas paisagens ou pela riqueza ou singularidade da sua fauna ou flora, procurando não só conservar o ecossistema, como também promover o seu uso sustentável e racional, evitando a sua degradação e esgotamento, mas permitindo o desenvolvimento de determinadas atividades de que são exemplo a silvicultura, a agricultura, a pecuária, o turismo, entre outras, que têm em conta as exigências económicas, sociais e culturais, bem como as particularidades regionais e locais e que, neste sentido, para alcançar o objetivo de desenvolvimento sustentado no tempo, em determinados casos, importa estimular as atividades humanas, procurando entender que proibir ou expulsar o Homem, sem tentar integrá-lo nos sistemas naturais, aproveitando os seus conhecimentos em vez de ignorá-los é condenar a medida ao fracasso. O gado ou nós? Não, o gado por nós!! Fontes: Izquierdo, Jaime, LA CONSERVACION CULTURAL DE LA NATURALEZA. 2013, Oviedo, KRK EDICIONES, 80pp Izquierdo, Jaime, ASTURIAS, REGION AGROPOLITANA: LAS RELACIONES CAMPO-CIUDAD EN LA SOCIEDAD POSINDUSTRIAL. 2008, Oviedo, KRK EDICIONES, 240pp REVISION BIBLIOGRÁFICA: LA GANADERÍA ECOLÓGICA EN LA GESTIÓN DE LOS ESPACIOS NATURALES PROTEGIDOS: ANDALUCÍA COMO MODELO OrganicA – Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira
Resposta da OrganicA à carta do leitor de Duarte Olim, com data de 01/06/2017: Geralmente não nos alongamos em argumentações ou em esclarecimentos sobre questões que nos parecem claras. Mas, como ainda restam dúvidas abrimos uma exceção para responder, uma última vez, ao leitor Duarte Olim:
Para o confirmar muitos países aumentaram as suas colheitas depois de diminuírem ou eliminarem pesticidas e culturas geneticamente modificadas que, ironicamente, à semelhança dos químicos surgiram como uma solução para a fome. - Uma das maiores mentiras em relação ao glifosato é a de este que se degrada rapidamente, deixando poucos ou nenhuns vestígios no ambiente. De facto, a Monsanto, fabricante do glifosato defendeu-o como biodegradável e amigo do ambiente, o que lhe valeu uma condenação do Supremo Tribunal Francês por publicidade enganosa, uma vez que a empresa ocultou o facto dos metabolitos da sua degradação serem muito mais tóxicos e persistentes no ambiente do que o produto original. - A inocuidade sobre a fauna é outro dos mitos frequentemente associados ao glifosato. O herbicida atua nos vários sistemas enzimáticos de plantas e micro-organismos, como bactérias, fungos e algas, que indiretamente afetam todos os seres vivos que dependem daqueles mas também alteram a biologia de minhocas, organismos aquáticos e até mamíferos através de vários mecanismos revelados em estudos recentes. - Quanto ao risco de perigosidade e outros perigos equivalentes que as pessoas podem evitar, nem vamos comentar porque, no nosso mundo ideal, não há lugar para discussões infrutíferas, nem para pessoas derrotistas. No nosso mundo ideal preferimos esclarecer, informar, educar e sobretudo mostrar que existem sempre opções mais saudáveis e sustentáveis pelas quais valerá sempre a pena lutar! OrganicA – Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira
Na sua edição de 24 de maio, o DN, de forma alarmista, e bem, porque o caso não é para menos, fez uma manchete, com o título: “Região usa e abusa de substância letal”. Ora a maior parte das pessoas só pensa nos assuntos e na necessidade de mudar comportamentos, quando é confrontado com relatos chocantes ou infelizmente quando se torna na própria vítima. Para agravar a situação em que vivemos, acomodados e conformados com o que a vida nos reserva, como se de uma situação inevitável se tratasse, surgem sempre opiniões dispostas a apontar o dedo e a acusar quem ousa desafiar um sistema que tende a defender o predador, em vez da presa e a desresponsabilizar as autoridades competentes. Assim, a OrganicA não pode deixar de responder ao Duarte Olim (cartas do leitor de 26.05.17), em nome dos consumidores e das vítimas do uso e abuso do glifosato na Madeira:
Mais uma vez, a utilização de pesticidas é justificada como sendo segura, desde que respeitadas as recomendações constantes do rótulo e fazendo crer que um simples curso (de 4 horas) de aplicação de fitofármacos será suficiente para eliminar qualquer risco para a saúde pública. Deixe-nos esclarecer, Duarte Olim, que à data, qualquer consumidor pode adquirir livremente, mesmo em grandes superfícies da Região, herbicidas à base de glifosato, que pode aplicar sem qualquer formação ou informação prévia, e que não existem formas seguras de utilizar pesticidas, aos quais se recorre precisamente pela sua toxicidade e capacidade de envenenamento. Infelizmente, a História comprova que as autoridades reguladoras não foram, capazes de deter as contaminações ambientais e os problemas de saúde, por produtos até então, considerados seguros. Mais, a geração dos nossos filhos, (que um dia o vão julgar) é a primeira da História moderna cuja esperança de vida, é menor do que a dos pais, ao contrário do que afirma, muito por culpa de pessoas, como você, que continuam a achar que o que não mata, engorda! Não são precisos grandes estudos científicos para se saber que nunca, como hoje, tivemos tantas crianças vítimas de doenças crónicas graves, como o cancro, já para não falar de tantas outras doenças com as quais aprendemos a conviver. Felizmente começam a aparecer reações sérias e responsáveis por parte das autoridades competentes de um grande número de países que proibiram o glifosato e outros pesticidas e que chegam à conclusão que, mesmo assim, conseguem produzir alimento em quantidades suficientes, mas sem impactos negativos. Em 1990 o Sri Lanka experienciou uma elevada taxa de doença crónica renal que causou a morte a mais de 20 000 pessoas. O glifosato, injetado na rede de águas com o objetivo de remover os depósitos de minerais, esteve na origem da tragédia. Desde então, têm sido emitidos vários alertas e estudos que poem em causa a segurança e controlo sobre os pesticidas sem que tenha havido uma resposta séria e responsável por parte das autoridades competentes da maior parte dos países. Em França, este herbicida e o seu metabolito de degradação no solo, foram encontrados em 80% das amostras de água de superfície, nas análises nacionais feitas pelo Instituto Francês do Ambiente (IFEN) em 1997/1998, sendo considerados por este instituto os principais poluentes de origem agrícola. Como medida de precaução, a partir de 2004 a dose autorizada de glifosato foi reduzida para 2.160 gramas/hectare por ano. Entretanto, a Agência Francesa de Saúde e Segurança (Anses) já emitiu um comunicado garantindo que vai proibir pesticidas que contenham glifosato e taloamina, suspeitos de comportarem riscos consideráveis para a saúde. Na Dinamarca, as análises às águas subterrâneas revelaram também a presença deste herbicida até ao valor máximo de 0,54 μg/litro, mais de 5 vezes acima do VMA para água de consumo (Kjaer, 2005). Este estudo feito pelo Instituto de Investigação Geológico da Dinamarca e Gronelândia, mostra que, ao contrário das teorias dos fabricantes, o produto não se degrada no solo de maneira suficientemente rápida para não provocar poluição das águas. Hoje, o pesticida está proibido na Dinamarca e o país prepara-se para converter, até 2020, toda a sua superfície agrícola ao modo de produção biológico. A Madeira é uma Região vulnerável e de alto risco de contaminação devido às suas características e nível de formação dos utilizadores de pesticidas e quando finalmente a comunidade médica se insurge, a comunicação social reage, os consumidores despertam e algumas entidades, como as autarquias, se esforçam no sentido de proteger a população, aparecem opiniões irresponsáveis, interesseiras e sem fundamento que põem em causa todo um trabalho sério em prol da nossa segurança e bem-estar. Que pessoas supostamente esclarecidas queiram continuar a usar e abusar de produtos tóxicos em sua casa, é um direito seu. Mas a OrganicA não pode, em consciência, assistir passivamente à aplicação destes produtos por parte de quem tem o dever de proteger os cidadãos e o interesse público. OrganicA – Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira
Artigo de José Carlos Marques publicado no Funchal Notícias, em 21 de novembro de 2016. Na sequência do artigo publicado no Funchal Noticias a 30 de outubro deste ano intitulado “Claro que é possível evitar incêndios e enxurradas” voltamos às gramíneas perenes com múltiplas vantagens na regeneração dos ecossistemas degradados, nomeadamente a sua fácil propagação, a facilidade de distribuição das sementes, a germinação sem necessidade de mobilização do solo e rápido crescimento quando submetidas a um pastoreio adequado, para explicar a necessidade da rápida aceleração dos processos de ativação da vida do solo, urgente e fundamental nas zonas degradadas, principalmente nos sistemas de montanha, nos solos desprovidos de argilas e nas regiões subtropicais e tropicais para evitar as catástrofes que têm assolado a nossa região. Fig.1 – Deslizamento ocorrido no Pico do Areeiro em 21/10/2015 (Foto: José Marques) Segundo, Renne Lewis, num artigo publicado em 2015 na revista “Nature Communications” a biodiversidade abaixo do solo é quase tão importante para um ecossistema como a vida acima dele. Neste estudo, a autora constata que o mundo subterrâneo, muitas vezes esquecido, composto por vermes, insetos, bactérias, fungos, entre tantos outros, desempenha um papel maior no apoio aos ecossistemas do que se pensava anteriormente: “Há mais microrganismos numa colher de chá cheia de terra saudável do que há pessoas no mundo!” Fig. 2 – Biomassa do solo em clima temperado, adaptado de “Soil Atlas, 2015” Apesar de Darwin, há 2 séculos atrás, reconhecer e mencionar que as comunidades que vivem no subsolo podiam ser diversas e importantes, isso não foi suficiente para um aprofundamento do conhecimento nos séculos seguintes. Num estudo recente, liderado pela Universidade de Pequim e pelo Centro de Macroecologia, Evolução e Clima da Universidade de Copenhaga, é mencionado que “enquanto a consciência da imensa biodiversidade abaixo do solo está a aumentar, estamos apenas a iniciar a compreensão da influência dessa biodiversidade nas funções do ecossistema”. As funções dos ecossistemas incluem, por exemplo, o sequestro de carbono e biomassa, a agregação e coesão das partículas existentes, a retenção e purificação da água, a importância na qualidade e quantidade de habitats ou abrigos, a criação de solo, a regulação de clima e também a de disponibilizar ou reter os vários nutrientes. Novas pesquisas descobriram que cerca de 32% da variação nas funções do ecossistema devem-se à biodiversidade no solo, em comparação à biodiversidade das plantas, que corresponde a 42%. Nestas pesquisas, os investigadores recolheram amostras em 60 locais no planalto tibetano na China, escolhidos pela sua extensa variação climática, e descobriram que combinando a biodiversidade acima e abaixo do solo, o poder preditivo da biodiversidade na multifuncionalidade ecológica aumentou ou seja aumentou a capacidade do ecossistema realizar múltiplas funções ou serviços em simultâneo. Estas e outras descobertas têm despertado uma nova perceção científica sobre as causas da erosão dos solo. Hoje, é assumido que os solos tropicais e subtropicais têm de ser protegidos contra o impacto da chuva, da luz solar direta e do sobreaquecimento, e que precisam de receber suficiente matéria orgânica para nutrir os mais de 20 milhões de microrganismos por cm3 de solo que abrigam, enquanto, nos climas temperados estes seres não devem ultrapassar 1,5 a 2 milhões/cm3 de solo, fazendo com que neste último tipo de clima, os solos apresentem uma velocidade de decomposição da Matéria Orgânica de 5 a 10 vezes inferior aos de clima tropical e subtropical, que por seu lado com toda a sua vida e agregação permitem um excelente e rápido desenvolvimento das raízes. É o cenário encontrado e mantido nos ecossistemas da Laurissilva ao longo de milhares de anos. Uma das funções menos conhecida e mais relevante da vida existente no solo é a sua influência na agregação dos materiais e elementos nele contidos. O papel do material orgânico e dos processos biológicos na organização hierárquica dos agregados do solo foi, primeiramente, apresentado por Tisdall & Oades e posteriormente desenvolvido por Oades 1993 e Geodrema e Tisdall em 1994. Estes autores referem que os processos físico-químicos tendem a ser mais importantes nos agregados de menor tamanho, enquanto os processos biológicos nos maiores. Em solos arenosos e/ou com pouco conteúdo de argila, como a maior parte dos solos da Madeira, a agregação é dependente, principalmente, dos processos biológicos, que acontecem nos solos vivos. Fatores que afetam a formação e estabilidade dos agregados
Um dos processos biológicos de agregação é produzido pelas micorrizas, uma associação de fungos às raízes das plantas, que são particularmente eficientes em proporcionar este tipo de estabilidade aos agregados maiores, pois segregam uma glicoproteína denominada glomalina, que é um agente agregante de excelência, considerado por muitos, o equivalente ao cimento na construção civil. Cerca de 90% das plantas terrestres estabelecem ligações com fungos e esta relação simbiótica permite às plantas receberem hidratos de carbono, fósforo e nitrogénio dos fungos, para além de melhorarem a sua capacidade de extração de água do solo, o que promove o seu desenvolvimento. Fig. 4 – Torrão de solo, depois de regenerado, com agregação de cariz biológica. Funchal 2015. (Foto: Sílvia Silva) O carbono orgânico é um dos indicadores mais consistentes da concentração de glomalina nos solos. Correlações positivas entre as frações de glomalina e o teor de carbono orgânico têm sido registados em solos naturais e cultivados (BIRD et al., 2002), o que faz da glomalina uma das razões científicas para o termo popular “a grossura ou gordura da terra”.
Enquanto a função das micorrizas na produção de glomalina e na agregação do solo é uma descoberta relativamente recente, a função das minhocas na coesão dos solos é já, há muito conhecida. Charles Darwin em 1881 refere o seguinte: “Duvida-se que possam existir muitos outros animais que tenham desempenhado um papel tão importante na história do mundo, como essas criaturas humildes organizadas”. A formação de agregados pela fauna do solo ocorre principalmente pelo fenómeno conhecido como biotrituração, sendo mais evidente em solos com baixos teores de argila. Nos seus cálculos, Darwin mostra que o trabalho das minhocas poderá acrescentar uma camada de solo, de 2 a 3 centímetros de espessura, num período de dez anos. As minhocas, e toda a macrofauna do solo, são consideradas, por muitos autores, os verdadeiros “engenheiros dos ecossistemas” pela sua capacidade de afetarem profundamente a estrutura do solo e proporcionar condições ideais para o desenvolvimento de plantas superiores e as minhocas em particular, são autênticas trituradoras de material vegetal. Segundo Hendrix e Bohlen (2002) as minhocas são os organismos mais conhecidos e, muitas vezes, os que mais influenciam o funcionamento do sistema solo.
Num estudo, publicado em 2015 na revista Nature Communications, que ajuda a compreender melhor a dinâmica dos solos, é referido um número difícil de assimilar, mas anualmente existem 35.000 milhões de toneladas de folhas de árvores que são recicladas nos solos da terra. Para visualizar, imagine-se uma massa de folhas, equivalente a quase 10 milhões de Boeings 747 a cair placidamente de todas as árvores do mundo: é muita matéria-prima disponível na natureza. Felizmente, as minhocas têm um papel importante em mastigar, digerir e levar parte deste material para o interior do solo, redistribuindo os nutrientes. As folhas que consomem são humedecidas, rasgadas em pequenos pedaços, parcialmente digeridas e misturadas com a terra e é este processo que dá ao bolor vegetal a sua tonalidade escura. Apesar das folhas possuírem moléculas complexas, os polifenóis, que as tornam difíceis de digerir para os herbívoros, as minhocas encontraram uma forma de bloquear estes compostos com a produção, no trato digestivo, de substâncias chamadas “drilodefensinas”, que anulam a ação dos polifenois, permitindo a digestão das proteínas das folhas. Darwin (1890) relatou que estes seres grandiosos podem transportar e incorporar em apenas 6 meses, no subsolo cerca de 10 kg/m2 de matéria orgânica contida nas folhas e noutros resíduos. Stockli, (1949) calculou uma quantidade total média de 80 000 kg de excrementos de minhoca por hectare por ano, variando com o tipo de solo e de mobilização a que é sujeito.
Aquando da aplicação destas teorias, de ativação da vida do solo, numa exploração de bananeiras, perguntei a um amigo agricultor o que tinha acontecido à cobertura de solo feita com palha de cana-de-açúcar e aplicada há apenas 2 meses e meio, ao que me respondeu: a terra comeu. De facto, não podia existir uma resposta mais assertiva. Surpreendido pelo velocidade de degradação resolvi avaliar a biomassa do solo para perceber o fenómeno e foi possível contabilizar, num quadrado de 25×25 cm com 30 cm de profundidade 673 minhocas na camada superficial dos 0 aos 10 cm, 175 minhocas na camada dos 10 aos 20 cm e 106 minhocas na camada dos 20 aos 30 cm. Em solos tropicais e subtropicais e de acordo com Lee (1985) os coprólitos (excrementos de minhocas) podem representar 50% dos macro-agregados nos horizontes superficiais e segundo Lafont et al. (2007) a construção de galerias e a produção de coprólitos, resultado da ingestão de resíduos orgânicos e minerais, estão entre as atividades das minhocas que causam maiores alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Por seu lado Barois et al. (1999) ressalta que, quando secas, além de concentrarem carbono e nutrientes, estas estruturas orgânicas conferem ao solo maior resistência ao processo erosivo devido à sua elevada estabilidade. Elaine Ingham (2015), uma microbiologista da Universidade do Colorado escreve: “Prados, árvores, jardins ou culturas, a história é sempre a mesma. A biologia do solo está a ser destruída pela ingerência humana. As raízes não conseguem ir tão profundo como deveriam. A água, a fertilidade e a limitação natural das doenças perde-se”. Solos vivos são essenciais na mitigação e na adaptação às mudanças climáticas, desempenham um papel fundamental no ciclo do carbono e na gestão da água, melhoram a capacidade de resistência a inundações e secas pelo que precisamos de compreender a sua complexidade e perceber que a biodiversidade subterrânea é a chave para alterarmos o paradigma. Em 2015 a ativista e laureada com o prémio Nobel alternativo Vandana Shiva refere que “a incapacidade de compreender a biodiversidade e as suas muitas funções está na raiz do empobrecimento da natureza e da cultura” e é por tudo isto e sobretudo pela necessidade de tudo fazermos para criar solos vivos e resilientes que precisamos entender a importância do pastoreio holístico, tema que abordaremos no próximo artigo. |
AutorA OrganicA surge da vontade de partilhar a nossa experiência enquanto consumidores comuns: as preocupações que sentimos, as coisas que aprendemos, as descobertas que fazemos e as atitudes que tomamos em prol de uma alimentação mais saudável e de um mundo mais sustentável. Archives
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