A produção de alimentos tem evoluído totalmente dependente do uso de pesticidas e a sua utilização é justificada pelas autoridades competentes como segura desde que respeitadas as recomendações constantes do rótulo e as “boas práticas agrícolas”. No entanto os argumentos caiem por terra quando analisados os números das doenças directamente relacionadas com a exposição a estes produtos tóxicos, divulgados um pouco por todo o mundo. Na falta de estudos nacionais, reveja-se os fundamentos para que estes venenos sejam considerados inofensivos.
Mito – Os pesticidas são rigorosamente testados Antes de serem colocados no mercado, os fitofármacos são dados como rigorosamente testados. No entanto, a autoridade reguladora aprova múltiplos pesticidas para determinada cultura, o que faz com que uma mistura de diferentes substâncias tóxicas seja aplicada durante o ciclo produtivo de uma planta, incluindo combinações de herbicidas, fungicidas, insecticidas e fertilizantes sintéticos. Muitos alimentos apresentam assim um cocktail de produtos químicos, mesmo que respeitados os intervalos de segurança, que interagem entre si, possivelmente potenciando os efeitos de cada um, numa equação em que 1+1 não é necessariamente igual a 2, mas que pode ter um factor multiplicador traduzido num efeito devastador para a saúde do consumidor. Estudos revelam que a sinergia ou conjugação de determinadas substâncias tóxicas resultam num cocktail que origina vários distúrbios da saúde, embora cada produto tenha sido testado isoladamente e não tenha aparentemente revelado problemas de maior. Para além disso, a maioria dos pesticidas usados na agricultura, são eles próprios uma combinação de vários produtos, nomeadamente uma substância activa, com outros produtos sintéticos classificados como solventes, adjuvantes e surfactantes considerados inertes por desempenharem um papel menor na formulação, mas quimicamente activos que aumentam desta forma a eficiência do produto, mas ignorados quanto ao seu potencial para causarem problemas de saúde. Muitos pesticidas são classificados quanto à sua toxicidade aguda, sendo o critério mais avaliado, a quantidade de produto em miligramas por peso de massa corporal, capaz de causar a morte a 50% das cobaias. No entanto, a avaliação é feita apenas para os resultados mais ou menos imediatos, não sendo consideradas as reacções adversas registadas a longo prazo. Mito – Os pesticidas são inofensivos em pequenas quantidades Outro mito relativo à segurança dos pesticidas é de que os resíduos encontrados nos alimentos e que cumprem com os limites máximos autorizados, são demasiado baixos para causar qualquer tipo de problema. No entanto, levantam-se dúvidas sobre os critérios que estabelecem estes valores como seguros. O método actual tem por base que quanto menor é a quantidade de produto, menor é o efeito que poderá desencadear numa alusão de que “a dose faz o veneno”. Contudo, sabe-se agora que existem produtos que em quantidades residuais são ainda mais tóxicos do em doses maiores, uma vez que nessas quantidades activam os receptores hormonais imitando ou interferindo com a acção das hormonas no organismo e desencadeando alterações endócrinas que estão na origem de doenças como a infertilidade, a obesidade ou a diabetes tipo 2 entre outras. Mito – Os pesticidas degradam-se rapidamente no ambiente Uma das maiores ilusões sobre os pesticidas é a crença de que estes rapidamente se degradam no ambiente deixando poucos ou nenhuns vestígios. De facto, muitos fabricantes reclamam este tipo de propriedades para os produtos que comercializam, mesmo que a informação não corresponda à verdade. Muitos dos químicos atuais persistem no ambiente exactamente como outros produtos tóxicos que foram retirados do mercado por esse motivo. Está confirmado que algumas substâncias químicas degradam-se, produzindo metabolitos que são, muitas vezes, mais tóxicos que os produtos que lhes deram origem. É o caso do glifosato, o herbicida mais usado do planeta, que a indústria e os utilizadores reclamam como amigo do ambiente, mas cujo produto da degradação é mais tóxico do que o principio activo testado sendo responsável por diversas doenças. Mito – As entidades reguladoras têm tudo sob controlo Outro dos fundamentos que justificam a utilização de produtos tóxicos na produção de alimentos é a de que as autoridades competentes têm tudo controlado e de que os pesticidas podem ser utilizados em segurança. No entanto, a história comprova que as autoridades reguladoras não foram, até agora, capazes de deter as contaminações ambientais e os problemas de saúde, por produtos até então, considerados seguros. As entidades têm ao longo do tempo mostrado uma atitude reaccionária, em vez de precaucionaria que poderia ter evitado a morte e a destruição. Os pesticidas são utilizados precisamente pela sua toxicidade e capacidade de envenenamento e compete às autoridades e não à sociedade civil, tomar medidas para que o Homem não esteja entre as principais vítimas. Mito – Os pesticidas são imprescindíveis na produção de alimentos Por último, o argumento de que sem pesticidas não é possível alimentar o mundo é posto em causa quando se analisam a fundo as verdadeiras causas da fome e outras formas de produzir alimentos como a agricultura biológica que proíbe o recurso a produtos químicos de síntese e mesmo assim é bem sucedida nos seus objectivos de produzir alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e sem impactos no ambiente e na saúde das pessoas como evidenciou a FAO em 2007. Os alimentos têm por objectivo nutrir e não destruir, pelo que é fundamental uma mudança no sistema alimentar que tenha por base a vida e não a morte. Fonte: Andre Leu, The Myths of Safe Pesticides - 2014 OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Artigo publicado no Jornal da Madeira em 02.03.2015
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AutorA OrganicA surge da vontade de partilhar a nossa experiência enquanto consumidores comuns: as preocupações que sentimos, as coisas que aprendemos, as descobertas que fazemos e as atitudes que tomamos em prol de uma alimentação mais saudável e de um mundo mais sustentável. Archives
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