Na sua edição de 24 de maio, o DN, de forma alarmista, e bem, porque o caso não é para menos, fez uma manchete, com o título: “Região usa e abusa de substância letal”. Ora a maior parte das pessoas só pensa nos assuntos e na necessidade de mudar comportamentos, quando é confrontado com relatos chocantes ou infelizmente quando se torna na própria vítima. Para agravar a situação em que vivemos, acomodados e conformados com o que a vida nos reserva, como se de uma situação inevitável se tratasse, surgem sempre opiniões dispostas a apontar o dedo e a acusar quem ousa desafiar um sistema que tende a defender o predador, em vez da presa e a desresponsabilizar as autoridades competentes. Assim, a OrganicA não pode deixar de responder ao Duarte Olim (cartas do leitor de 26.05.17), em nome dos consumidores e das vítimas do uso e abuso do glifosato na Madeira:
Mais uma vez, a utilização de pesticidas é justificada como sendo segura, desde que respeitadas as recomendações constantes do rótulo e fazendo crer que um simples curso (de 4 horas) de aplicação de fitofármacos será suficiente para eliminar qualquer risco para a saúde pública. Deixe-nos esclarecer, Duarte Olim, que à data, qualquer consumidor pode adquirir livremente, mesmo em grandes superfícies da Região, herbicidas à base de glifosato, que pode aplicar sem qualquer formação ou informação prévia, e que não existem formas seguras de utilizar pesticidas, aos quais se recorre precisamente pela sua toxicidade e capacidade de envenenamento. Infelizmente, a História comprova que as autoridades reguladoras não foram, capazes de deter as contaminações ambientais e os problemas de saúde, por produtos até então, considerados seguros. Mais, a geração dos nossos filhos, (que um dia o vão julgar) é a primeira da História moderna cuja esperança de vida, é menor do que a dos pais, ao contrário do que afirma, muito por culpa de pessoas, como você, que continuam a achar que o que não mata, engorda! Não são precisos grandes estudos científicos para se saber que nunca, como hoje, tivemos tantas crianças vítimas de doenças crónicas graves, como o cancro, já para não falar de tantas outras doenças com as quais aprendemos a conviver. Felizmente começam a aparecer reações sérias e responsáveis por parte das autoridades competentes de um grande número de países que proibiram o glifosato e outros pesticidas e que chegam à conclusão que, mesmo assim, conseguem produzir alimento em quantidades suficientes, mas sem impactos negativos. Em 1990 o Sri Lanka experienciou uma elevada taxa de doença crónica renal que causou a morte a mais de 20 000 pessoas. O glifosato, injetado na rede de águas com o objetivo de remover os depósitos de minerais, esteve na origem da tragédia. Desde então, têm sido emitidos vários alertas e estudos que poem em causa a segurança e controlo sobre os pesticidas sem que tenha havido uma resposta séria e responsável por parte das autoridades competentes da maior parte dos países. Em França, este herbicida e o seu metabolito de degradação no solo, foram encontrados em 80% das amostras de água de superfície, nas análises nacionais feitas pelo Instituto Francês do Ambiente (IFEN) em 1997/1998, sendo considerados por este instituto os principais poluentes de origem agrícola. Como medida de precaução, a partir de 2004 a dose autorizada de glifosato foi reduzida para 2.160 gramas/hectare por ano. Entretanto, a Agência Francesa de Saúde e Segurança (Anses) já emitiu um comunicado garantindo que vai proibir pesticidas que contenham glifosato e taloamina, suspeitos de comportarem riscos consideráveis para a saúde. Na Dinamarca, as análises às águas subterrâneas revelaram também a presença deste herbicida até ao valor máximo de 0,54 μg/litro, mais de 5 vezes acima do VMA para água de consumo (Kjaer, 2005). Este estudo feito pelo Instituto de Investigação Geológico da Dinamarca e Gronelândia, mostra que, ao contrário das teorias dos fabricantes, o produto não se degrada no solo de maneira suficientemente rápida para não provocar poluição das águas. Hoje, o pesticida está proibido na Dinamarca e o país prepara-se para converter, até 2020, toda a sua superfície agrícola ao modo de produção biológico. A Madeira é uma Região vulnerável e de alto risco de contaminação devido às suas características e nível de formação dos utilizadores de pesticidas e quando finalmente a comunidade médica se insurge, a comunicação social reage, os consumidores despertam e algumas entidades, como as autarquias, se esforçam no sentido de proteger a população, aparecem opiniões irresponsáveis, interesseiras e sem fundamento que põem em causa todo um trabalho sério em prol da nossa segurança e bem-estar. Que pessoas supostamente esclarecidas queiram continuar a usar e abusar de produtos tóxicos em sua casa, é um direito seu. Mas a OrganicA não pode, em consciência, assistir passivamente à aplicação destes produtos por parte de quem tem o dever de proteger os cidadãos e o interesse público. OrganicA – Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira
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A produção de alimentos tem evoluído totalmente dependente do uso de pesticidas e a sua utilização é justificada pelas autoridades competentes como segura desde que respeitadas as recomendações constantes do rótulo e as “boas práticas agrícolas”. No entanto os argumentos caiem por terra quando analisados os números das doenças directamente relacionadas com a exposição a estes produtos tóxicos, divulgados um pouco por todo o mundo. Na falta de estudos nacionais, reveja-se os fundamentos para que estes venenos sejam considerados inofensivos.
Mito – Os pesticidas são rigorosamente testados Antes de serem colocados no mercado, os fitofármacos são dados como rigorosamente testados. No entanto, a autoridade reguladora aprova múltiplos pesticidas para determinada cultura, o que faz com que uma mistura de diferentes substâncias tóxicas seja aplicada durante o ciclo produtivo de uma planta, incluindo combinações de herbicidas, fungicidas, insecticidas e fertilizantes sintéticos. Muitos alimentos apresentam assim um cocktail de produtos químicos, mesmo que respeitados os intervalos de segurança, que interagem entre si, possivelmente potenciando os efeitos de cada um, numa equação em que 1+1 não é necessariamente igual a 2, mas que pode ter um factor multiplicador traduzido num efeito devastador para a saúde do consumidor. Estudos revelam que a sinergia ou conjugação de determinadas substâncias tóxicas resultam num cocktail que origina vários distúrbios da saúde, embora cada produto tenha sido testado isoladamente e não tenha aparentemente revelado problemas de maior. Para além disso, a maioria dos pesticidas usados na agricultura, são eles próprios uma combinação de vários produtos, nomeadamente uma substância activa, com outros produtos sintéticos classificados como solventes, adjuvantes e surfactantes considerados inertes por desempenharem um papel menor na formulação, mas quimicamente activos que aumentam desta forma a eficiência do produto, mas ignorados quanto ao seu potencial para causarem problemas de saúde. Muitos pesticidas são classificados quanto à sua toxicidade aguda, sendo o critério mais avaliado, a quantidade de produto em miligramas por peso de massa corporal, capaz de causar a morte a 50% das cobaias. No entanto, a avaliação é feita apenas para os resultados mais ou menos imediatos, não sendo consideradas as reacções adversas registadas a longo prazo. Mito – Os pesticidas são inofensivos em pequenas quantidades Outro mito relativo à segurança dos pesticidas é de que os resíduos encontrados nos alimentos e que cumprem com os limites máximos autorizados, são demasiado baixos para causar qualquer tipo de problema. No entanto, levantam-se dúvidas sobre os critérios que estabelecem estes valores como seguros. O método actual tem por base que quanto menor é a quantidade de produto, menor é o efeito que poderá desencadear numa alusão de que “a dose faz o veneno”. Contudo, sabe-se agora que existem produtos que em quantidades residuais são ainda mais tóxicos do em doses maiores, uma vez que nessas quantidades activam os receptores hormonais imitando ou interferindo com a acção das hormonas no organismo e desencadeando alterações endócrinas que estão na origem de doenças como a infertilidade, a obesidade ou a diabetes tipo 2 entre outras. Mito – Os pesticidas degradam-se rapidamente no ambiente Uma das maiores ilusões sobre os pesticidas é a crença de que estes rapidamente se degradam no ambiente deixando poucos ou nenhuns vestígios. De facto, muitos fabricantes reclamam este tipo de propriedades para os produtos que comercializam, mesmo que a informação não corresponda à verdade. Muitos dos químicos atuais persistem no ambiente exactamente como outros produtos tóxicos que foram retirados do mercado por esse motivo. Está confirmado que algumas substâncias químicas degradam-se, produzindo metabolitos que são, muitas vezes, mais tóxicos que os produtos que lhes deram origem. É o caso do glifosato, o herbicida mais usado do planeta, que a indústria e os utilizadores reclamam como amigo do ambiente, mas cujo produto da degradação é mais tóxico do que o principio activo testado sendo responsável por diversas doenças. Mito – As entidades reguladoras têm tudo sob controlo Outro dos fundamentos que justificam a utilização de produtos tóxicos na produção de alimentos é a de que as autoridades competentes têm tudo controlado e de que os pesticidas podem ser utilizados em segurança. No entanto, a história comprova que as autoridades reguladoras não foram, até agora, capazes de deter as contaminações ambientais e os problemas de saúde, por produtos até então, considerados seguros. As entidades têm ao longo do tempo mostrado uma atitude reaccionária, em vez de precaucionaria que poderia ter evitado a morte e a destruição. Os pesticidas são utilizados precisamente pela sua toxicidade e capacidade de envenenamento e compete às autoridades e não à sociedade civil, tomar medidas para que o Homem não esteja entre as principais vítimas. Mito – Os pesticidas são imprescindíveis na produção de alimentos Por último, o argumento de que sem pesticidas não é possível alimentar o mundo é posto em causa quando se analisam a fundo as verdadeiras causas da fome e outras formas de produzir alimentos como a agricultura biológica que proíbe o recurso a produtos químicos de síntese e mesmo assim é bem sucedida nos seus objectivos de produzir alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e sem impactos no ambiente e na saúde das pessoas como evidenciou a FAO em 2007. Os alimentos têm por objectivo nutrir e não destruir, pelo que é fundamental uma mudança no sistema alimentar que tenha por base a vida e não a morte. Fonte: Andre Leu, The Myths of Safe Pesticides - 2014 OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Artigo publicado no Jornal da Madeira em 02.03.2015 O Mundo dos nossos dias é cada vez mais exigente e quando compramos diariamente produtos/alimentos para consumo próprio muitas vezes nem nos damos ao trabalho de olhar, com olhos de ver, aquilo que estamos a introduzir nas nossas casas. Cada vez mais, a oferta é maior e temos de ser responsáveis na escolha do que consumimos sob pena de afectarmos a nossa saúde. Para isso, temos de saber mais acerca dos seus constituintes e da forma como são produzidos. Enquanto profissional de saúde tenho de reconhecer que, até há cerca de 3 anos, não estava muito desperta para a importância da exposição aos químicos de síntese, até ter sido confrontada com as conclusões de um estudo espanhol que me deixou a pensar. Neste estudo, foi pesquisada a presença de pesticidas no sangue do cordão umbilical de 308 grávidas saudáveis, tendo sido detectados em 100% das grávidas pelo menos um tipo de pesticida (a média era de 8)!
Mais do que os estudos, o constatar na minha prática clínica que estão a aparecer cada vez mais tumores e doenças autoimunes (doenças em que o corpo ataca-se a si próprio porque as nossas defesas identificam erradamente os tecidos como sendo “estranhos”) em adultos jovens, levou-me a ter mais interesse neste tema. Por mais que as pessoas possam ter predisposição genética para estas doenças, muitas vezes é necessário um fator desencadeante e este está frequentemente relacionado com o ambiente a que determinada pessoa está exposta. Neste contexto, acredito piamente que os químicos utilizados nos alimentos, na água, em alguns cremes hidratantes, desodorizantes, champôs, amaciadores, gel duche, sabonetes, pasta de dentes, verniz para as unhas, tintas para o cabelo, medicamentos e, surpreenda-se, até toalhitas para bebé, têm alguma coisa a ver com o assunto. Muitos fabricantes defendem-se afirmando que usam quantidades mínimas, não tóxicas nos seus produtos mas, se pensarmos que em média, cada um de nós usa diariamente entre 10 a 15 produtos, não custa acreditar que anos de exposição possam alterar o suficiente as nossas células para causar dano. Após alguma investigação e reflexão decidi então declarar guerra a estes compostos (ftalatos, laurilsulfato de sódio, parabenos, tricloroetileno, petroquímicos, etc…). Comecei a minha luta dentro da minha própria casa para depois conseguir transmitir e dar o exemplo aos meus pacientes. Primeiro, comecei por passar a consumir alimentos biológicos e remover os parabenos (químicos utilizados como conservantes, fungicidas e bactericidas e encontrados muito frequentemente em cosméticos). Nem queria acreditar que 3/4 dos produtos que tinha, tive de deitar no lixo, incluindo a solução oral para a febre da minha filha e as ampolas de ferro que tomei durante a gravidez. A partir daí nunca mais parei! E a lista de tóxicos não pára de crescer… Não adianta ficar indignado com as entidades reguladoras destes produtos porque nós, consumidores, é que temos o poder da mudança e de reverter esta situação ao não adquirir estes produtos. Não tenha receio de questionar os produtores dos alimentos que compra acerca da sua produção, opte por alimentos o mais isentos de químicos possível e verifique sempre a lista de ingredientes dos produtos que compra. Pela sua saúde e das gerações seguintes seja exigente nas suas escolhas! Por Catarina Dias Especialista em Medicina Interna Artigo publicado no Jornal da Madeira em 02.02.2015 |
AutorA OrganicA surge da vontade de partilhar a nossa experiência enquanto consumidores comuns: as preocupações que sentimos, as coisas que aprendemos, as descobertas que fazemos e as atitudes que tomamos em prol de uma alimentação mais saudável e de um mundo mais sustentável. Archives
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