“Nenhuma atividade humana, nem mesmo a medicina, tem tanta importância para a saúde do Homem como a agricultura”. Esta afirmação foi feita pelo médico francês Debelt, em 1945, no mesmo ano em que teve inicio a então denominada Revolução Verde. A intenção era boa, o objetivo seria aproveitar grandes extensões de terra e produzir a maior quantidade de alimentos possível com recurso a alta tecnologia e a combustível barato.
Assim, selecionaram-se as espécies e as variedades mais produtivas, conduzindo desde logo, ao empobrecimento da nossa dieta alimentar, passando a predominar o trigo, o milho e o arroz, com a inevitável perda de biodiversidade traduzida na extinção de mais de 75% das variedades usadas no início do século passado. Estas variedades mais produtivas, são também as mais sensíveis a pragas e doenças, conduzindo a uma crescente utilização de pesticidas, que além de provocarem a degradação dos solos, com a perda de 12 milhões de hectares todos os anos, levaram também à contaminação de toda a cadeia alimentar, nomeadamente da água, tornando este um dos recursos mais escassos e mais poluídos. À medida que cresce o poder de compra dos consumidores, aumenta o consumo de carne de criação intensiva que é responsável pela emissão de 18% dos gases com efeito de estufa, enquanto o sector dos transportes emite apenas 13% do total. Para aumentar a produtividade, os animais são alimentados com cereais, em vez de alimentos adaptados à sua fisiologia digestiva, tornando-os em seres pouco resistentes a doenças, que competem diretamente com o Homem na obtenção de alimentos, condenando à fome, populações inteiras. A disponibilidade de energia barata possibilitou a deslocação dos alimentos, sendo que atualmente os produtos alimentares viajam em média 3000 km até chegar à mesa dos consumidores, com a evidente perda de nutrientes, naturalmente presentes nos alimentos frescos e com os produtos químicos necessários para aumentar o prazo de conservação dos produtos. O uso generalizado de pesticidas, antibióticos e promotores de crescimento, tem graves consequências no ambiente e na saúde pública, nomeadamente o aparecimento das super bactérias resistentes aos tratamentos e que são responsáveis pela morte de milhares de pessoas, todos os anos, em ambientes hospitalares. Os efeitos cumulativos de ingestão continuada de alimentos contaminados, condenou a geração dos nossos filhos, fazendo com que esta seja a primeira da história moderna com uma esperança de vida menor que a dos seus pais. As orientações da Organização Mundial de Saúde para uma alimentação saudável, traduzem-se na recomendação de uma dieta equilibrada e diversificada, rica em fibras, estimulando o consumo de frutas, legumes, cereais integrais, carnes brancas e peixe branco ou azul, mas ignorando sistematicamente o modo como esses alimentos são produzidos, e o efeito cumulativo e de interação dos químicos, o que faz toda a diferença entre prevenir as doenças ou aumentar a sua incidência. O salmão por exemplo é considerado um alimento saudável por excelência, e de facto é quando se trata de salmão selvagem. No entanto, o aumento da procura por este peixe, tornou-o num animal de cativeiro, à semelhança da produção intensiva de carne, ao qual são fornecidos antibióticos e promotores de crescimento, a par de alimentos (peixe e cereais) que poderiam alimentar o homem diretamente em vez dos alimentos que ingeririam naturalmente no seu habitat, que os tornariam ricos em Omega 3. A maçã é outro dos alimentos associados a uma alimentação sã, e geralmente recomenda-se a preservação da casca de modo a fornecer mais fibra e mais vitaminas. No entanto, uma única maçã pode conter resíduos de mais de uma dezena de pesticidas, devido à generalização das variedades mais produtivas e mais apreciadas pelos consumidores, que são também as mais sensíveis a pragas e doenças. A situação é o resultado da ganância dos produtores e da falta de exigência do consumidor que se habituou, à monotonia das dietas de fraca qualidade, com a ingestão dos mesmos produtos, independentemente da sua época de produção e variando pouco nos ingredientes que compõem a sua refeição. OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Artigo publicado no Jornal da Madeira em 28.08.2014
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Em Portugal, uma em cada três crianças tem excesso de peso! De acordo com a Comissão Europeia, Portugal está entre os países da europa com maior número de crianças afectadas por esta epidemia. A OMS estima que em 2020 (daqui a 5 anos!) a obesidade afecte 21% dos portugueses e 22% das portuguesas, valores que sobem em 2030 para 27% e 26% para cada um dos sexos. Se os nossos filhos comem vegetais no prato, até comem fruta, até bebem água, e até fazem muita coisa “dita” saudável, porque é que esta previsão é de pioria e não de melhoria?! Já pensaram nisto?! Aqui é que entram os escondidinhos, as bolachas, os iogurtes, as barras, os pães, os bolos, os doces, todos estes alimentos processados com um “ar perfeitamente” inócuo podem ter ingredientes que fazem muito mal aos nossos filhos. A ideia deste artigo, é pôr-vos a pensar um pouco e a questionar todos os alimentos que entram na lancheira das crianças. De uma forma prática devemos fazer o seguinte: 1º Compreender de onde vêm os alimentos. Vejamos o exemplo da maçã. De onde vem? Onde foi produzida? Como foi produzida? Podemos e devemos escolher sempre os nossos vegetais e fruta biológicos, de produção local e de época. (Sabiam que a maçã pode conter cerca de 30 a 40 pesticidas/herbicidas de uma lista de 115 produtos permitidos por lei em Portugal?!). 2º Ler a lista de ingredientes. Será que a bolacha Maria é mesmo só uma bolacha Maria? Além da carga de açúcar e de sal que as bolachas hoje em dia podem ter, as farinhas podem ser geneticamente modificadas e muitas vezes levam gorduras hidrogenadas e outros ingredientes que nem eu mesma sei o que são. Aventurem-se na cozinha, preparem bolachas, barras de cereais, mesmo bolos que os vossos filhos gostem e onde conseguem “manipular” a receita com ingredientes saudáveis, saborosos e que vão de encontro às preferências dos mais pequenos. 3º Envolver as crianças nas escolhas dos alimentos que querem. Eu compreendo que possa ser desafiante “mudar lancheira”, mas não vos estou a pedir que passem das “belgas para as cenouras”, façam mudanças graduais, semana a semana e envolvendo as crianças nas escolhas. As crianças estão ávidas por informação e muitas vezes aceitam melhor que os pais, as mudanças alimentares, quando bem fundamentadas. 4º Equilibrar nutricionalmente as lancheiras. Ter um alimento fresco, rico em vitaminas, minerais e fitoquímicos; ter uma fonte de proteína para a construção das células e uma fonte de gordura saudável para energia. Para ser mais fácil dou-vos exemplos: 1) um pão de cereais com uma fatia de queijo e umas cerejas da época; 2) uma banana, um iogurte natural e umas nozes e cajus. 3) uma barra de aveia e frutos secos, caseira com uma pêra e um queijinho redondo. Reforço, por mais complicada que possa parecer a mudança, não desistam, é urgente que mudem. Por eles, e por quem eles serão um dia! Boas escolhas alimentares, Nádia Brazão - Dietista no Plano D Nutrição em Blogue - nadiabrazaoplanod.blogspot.pt Artigo publicado no Jornal da Madeira em 01.06.2015 Contudo, não existe uma política nacional de alimentação que considere a produção e o consumo como um todo. O sistema e os comportamentos alimentares estão a causar prejuízos incalculáveis à saúde da população, aos solos, à água e ao ar.
Se uma potência estrangeira perpetrasse tais actos, seria considerada uma ameaça à segurança nacional, ou até um acto de guerra e o governo formularia um compreensível plano e uniria recursos para combate-la...mas sendo realizado por nós próprios, tudo é admissível e até subsidiado? Quando é possível prevenir centenas de milhares de mortes e doenças crónicas resultantes de maus hábitos alimentares e modos de produção agrícola destrutivos, esta não deveria ser uma prioridade nacional? Um plano integrado de alimentação deveria garantir, que todos, sem excepção, tivessem acesso a uma alimentação saudável; as políticas de produção deveriam garantir a saúde pública e a proteção do ambiente; os alimentos seriam livres de microorganismos patogénicos, químicos e medicamentos; a produção e comercialização de alimentos seria realizada de forma transparente; a indústria alimentar asseguraria boas condições de trabalho e ordenados justos às pessoas que emprega; o marketing alimentar asseguraria comportamentos alimentares saudáveis, motivando as crianças a comerem alimentos verdadeiros; seria efectivamente assegurado o bem estar animal; a pegada ecológica da produção alimentar seria reduzida e o sequestro do carbono nas explorações aumentaria e finalmente o sistema alimentar teria de ser resiliente ao ponto de minimizar os efeitos das alterações climáticas; Devido ao consumo de alimentos pouco saudáveis, retrocedeu-se 100 anos no estado da saúde e qualidade de vida das populações, sendo que actualmente as crianças têm uma esperança de vida menor do que a dos seus pais. Encontramo-nos nesta situação porque áreas como a segurança alimentar, a produção agrícola, a saúde, a comunicação, a segurança no trabalho, a qualidade do ar e da água, os subsídios à produção condicionam ou são condicionados pelo sistema alimentar, mas são tuteladas por serviços diferentes, com políticas próprias que nada têm a ver com interesse público. Se por um lado, a saúde recomenda uma alimentação diversificada, a agricultura incentiva a monocultura, se o objectivo é diminuir as taxas de cancro, como pode a politica agrícola continuar a estimular um modo de produção baseado na aplicação de produtos químicos, eles próprios cancerígenos? Se a solução é comer local, porque que é que se continua a dificultar a vida aos pequenos produtores e a incentivar a economia de escala, privilegiando a produtividade em vez da qualidade? Continuar-se-ia a promover o consumo de carnes brancas, em prol da saúde, sabendo a forma como as aves são criadas e alimentadas? É coerente incentivar a ingestão de alimentos saudáveis e continuar a cortar nos ordenados dos trabalhadores? OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Baseado em “How a national food policy could save millions of American lives” in Washington Post 7/11/2014 Artigo publicado no Jornal da Madeira em 19.01.2015 Os padrões de consumo e hábitos alimentares atuais levam muitas vezes a um grande desperdício na cozinha. Alimentos estragados ou fora de prazo, refeições que calculamos mal e acabam por não ser consumidas, partes de legumes que deitamos fora porque não as sabemos utilizar... cada vez consumimos mais e deitamos mais alimentos fora.
Se nos habituamos a consumir produtos da época, a dificuldade é acrescida, porque consoante a estação podemos ter muita quantidade de determinados produtos, mas são poucos aqueles com que podemos contar ao longo de todo o ano. E quantas vezes fazemos contas ao que gastamos em compras de alimentos, mas não contabilizamos o custo do que deitamos fora? Eis algumas dicas para reduzir o desperdício na cozinha e aproveitar ao máximo todos os benefícios dos alimentos frescos biológicos: 1. Planeamento acima de tudo. Programe os refeições da semana tendo em conta os produtos da época, o tipo de refeições que pretende fazer e o seu encadeamento, por forma a que os restos de uma refeição possam ser transformados noutra. Se fizer um frango assado numa refeição, transforme o que sobrar em recheios de crepes ou wraps, empadas, sanduiches, saladas... O truque é sempre pensar em várias refeições de forma integrada, tendo em conta um ingrediente principal; 2. Não deite nada fora! Os ossos do frango podem ser usados para fazer caldos caseiros, que por sua vez podem ser congelados. Junte-lhes as extremidades de cebola, cenoura, aipo, pimento, etc. que deve ir guardando no frigorífico. Sempre que tiver restos de legumes, pode fazer caldos de legumes caseiros para congelar e usar quando for preciso. Frite as cascas de batatas bem lavadas em azeite, alho e ervas, para uma deliciosa entrada! (Atenção, não use a casca da batata a não ser que seja biológica, para evitar os pesticidas e conservantes que aí se concentram). Use os talos dos brócolos, espinafres, couves, agrião na base das sopas. Desidrate as cascas de citrinos no forno, triture e dê cheiro e cor à flor de sal ou ao açúcar, por exemplo. 3. Congele, congele, congele. Lave, corte e prepare alimentos como brócolos, ervilhas, cenouras, cebolas, alho, ervas aromáticas, espinafres, frutos silvestres, etc. e coloque no congelador em sacos bem fechados. Se tem muita banana madura, corte aos bocados e congele em porções pequenas – basta triturá-la em alta velocidade num liquidificador para ter um excelente sorvete de banana como sobremesa. O mesmo pode ser feito com manga, morangos, frutos vermelhos, simples ou misturados com iogurte ou hortelã, por exemplo. Não se esqueça de congelar as ervas, bem como o pão que não comeu. 4. Quem não gosta de conservas? Compotas, pickles, conservas de legumes, doces, agridoces, salgadas... aproveite os produtos da época e transforme-os, existem mil e uma receitas para preservar frutas e legumes e saborear ao longo de todo o ano. 5. Pão e queijo: Rale a côdea do pão ou o pão seco para fazer pão ralado, ou salteie cubos de pão duro em azeite para fazer os seus próprios croutons. Utilize as aparas e sobras de queijo para preparar pratos de massa com queijo ou ralar para coberturas de refeições gratinadas. Faça pão-ralado parmesão para coberturas de gratinados e polme para fritos utilizando aparas de queijo parmesão e côdeas de pão ou pão duro. 6. Recicle! Se não conseguir pensar em mais nada para transformar restos de alimentos, transforme em composto!! Pelo menos podem ser aproveitados como fertilizante natural. OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira Artigo publicado no Jornal da Madeira em 09.03.2015 |
AutorA OrganicA surge da vontade de partilhar a nossa experiência enquanto consumidores comuns: as preocupações que sentimos, as coisas que aprendemos, as descobertas que fazemos e as atitudes que tomamos em prol de uma alimentação mais saudável e de um mundo mais sustentável. Archives
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