Todos os ecossistemas têm uma determinada capacidade para se auto-regenerarem, assim que a pressão da perturbação cessa. Mas nos casos em que a recuperação é muito lenta, então a intervenção do Homem deve ser considerada. Em zonas com elevada humidade, o repouso será suficiente para a auto-regeneração do ecossistema, uma vez que os microorganismos necessários para o processo existem naturalmente no ambiente, mas em climas mais secos, o repouso pode agravar a degradação e os micróbios necessários para a regeneração devem ser fornecidos pelos herbívoros. Vem isto a propósito da polémica sobre o gado nas serras da Madeira. É verdade que a vegetação original da Madeira evoluiu sem a presença de animais herbívoros, mas também é verdade que foi o Homem que precipitou o desequilíbrio que agora ameaça a sua própria existência nas zonas a jusante, facto que torna urgente uma intervenção que faça reverter a avançada degradação que se observa e que não se compadece com o tempo que levaria a regeneração natural, interrompida muitas vezes pela própria interferência do homem quer pela aplicação de herbicidas, quer pela ocorrência de incêndios. Destruído o equilíbrio, as gramíneas perenes que tomaram o lugar da vegetação indígena são neste momento a forma mais eficaz de reter a água e o solo nas zonas altas devido ao sistema radicular que apresentam. No entanto, se esta erva não for consumida começa a degradar-se e o solo acaba por ficar a descoberto e seco, impedindo a regeneração natural. Nesta fase, dá-se uma alteração da flora, para a instalação da uma vegetação lenhosa, de crescimento rápido, como são as giestas. A alternativa tem sido muitas vezes a aplicação de herbicidas que, mais uma vez, alteram o equilíbrio e provocam a destruição da vida do solo, que perde toda a sua fertilidade, capacidade de regeneração e agregação provocando depois a erosão e escorrimento responsáveis pelos desmoronamentos e enxurradas que continuam a ocorrer. Na regeneração ponderada devem ser reintroduzidos componentes do ecossistema que se perderam, reproduzindo a sucessão natural, mas numa estratégia de prevenção de incêndios, alguns tipos de vegetação intermédia devem ser evitados. É aqui que entra o papel dos animais, que em trânsito, controlariam as infestantes até à altura em que o solo atinja níveis de matéria orgânica e de actividade biológica que garantam o sucesso da reflorestação. Os pastores têm sido alvo de criticas, mas eles podem ter nas mãos a solução para a regeneração dos solos e para a prevenção de aluviões que põem em causa a segurança da população. O problema tem sido a falta de estratégia que acaba sempre em tentativas falhadas ao contrário do que tem acontecido em outras partes do globo, onde os animais são considerados um elemento fundamental no equilibro do sistema e um serviço público em prol da sustentabilidade. Adaptado de SOIL ATLAS, Facts and figures about earth, land and fields, IASS, Potsdam, 2015
OrganicA - Associação de Promoção de Agricultura Biológica da Madeira
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